sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Política da Empresa

A segunda dos computadores nos EUA apoiou Bush e o supermercado onde se começa o dia cantando recomendou Obama

Não tenho conseguido sair do tema da reforma política por achar que ele está na raiz de muitos de nossos males, contrariando avaliação do bel-letrista José Sarney, em cuja opinião, o demônio mora na mídia, que não respeita as instituições. Ocorre que, da reforminha eleitoral aprovada no Congresso, a única informação que chegou ao grande público, foi de que a propaganda política pela internet está liberada (ninguém sabe quem ou como alguém controlaria o mundo virtual). Ouvi o Boris Kasoy, pela Band News, inquirir a estimada colega, Dora Kramer, acerca de um pequeno detalhe da mini-reforma: - Por que os congressistas não mudaram um milímetro da regra das doações de campanha, por exemplo?

- Constrangimento, disse Dora, certamente enrubescida. – Eles dizem que a identificação poderia constranger os doadores. Tem razão: - Já pensou, se alguém descobre que eu doei dinheiro ao deputado João Paulo ou à senadora Roseana, uma passagem de avião para a sobrinha do Gabeira ou querosene para abastecer o jatinho de algum senador? – No mínimo, me chamariam para depor numa comissão de ética. Mas, vira e mexe - hoje mesmo (18), na FSP - alguém “denúncia” que tal empresa doou tanto ou quanto a este ou aquele parlamentar.

Segundo Dora Kramer, somente o Senado poderia alterar essa regra, porque, na Câmara, o número dos que estão se lixando para a opinião pública é maior. O voto no senador é individual, o que permite ao eleitor cobrá-lo por suas atitudes, ao passo que, para deputado federal, se vota no partido: ninguém se lembra em quem votou porque, muitas vezes, o voto em beltrano elegeu cicrano.

Quando eu sugeri uma campanha atrelando o voto ao compromisso do candidato com uma reforma política maiúscula, me chamaram de ingênuo. Em seguida, a campanha da ficha limpa subiu os degraus da mansão habitada pela grande senhora (a mídia). São boas discussões, se me permite a modéstia. - Por que não levá-las aos auditórios das grandes empresas e instituições, sempre antenadas com o desenvolvimento social de seus colaboradores?

A preocupação com a Internet na reforminha, por outro lado, mostrou que a sociedade (ou os seus representantes) começa a perceber a transição da mídia, influenciada pelas redes sociais, ou a mudança da sociedade industrial para a sociedade do conhecimento, como prefere um amigo meu. A proibição aos blogs e twitters de jornalistas da Globo e da FSP não-associados a essas empresas é outro sintoma. Mais um: há três dias, recebi um e-mail com fotos do assassinato de baleias num ritual de passagem macabro de jovens da Dinamarca de Kierkegaard. Ontem, a TV mostrou a matança de focas no civilizado Canadá.

Mas não é só a Internet na política, a campanha da ficha limpa, ou da moral ilibada do senador Pedro Simon, o voto distrital ou a caixa preta das doações de campanha que merecem uma boa conversa nas empresas, derrubando o tabu de que negócios e política não se misturam. Esse mesmo tabu já caberia num debate. E por que não se promoverem fóruns com funcionários representando candidatos ou partidos, como nos julgamentos simulados que as faculdades de Direito promovem ou promoviam, buscando esclarecer as pessoas quanto às propostas e compromissos de seus representantes nas instituições que o ex-presidente Sarney quer ver respeitadas?

Pelo menos um grande grupo empresarial brasileiro orienta seus diretores e média gerência a apoiar abertamente os seus candidatos nas eleições municipais, estaduais e federais, por considerar-se parte de uma sociedade que tem o direito e o dever de influir nas decisões que também lhe dizem respeito. Vários executivos de Comunicação que conheço mostraram simpatia pela idéia dos debates políticos nas organizações, mas não se arriscaram (ainda) a fazê-lo abertamente. Quem sabe este post lhes sirva como um ponto de partida.

Ilustração: houseodudes.blogspot, reproduzindo Scott Adams (www.dilbert.com) em entrevista à CNN explicando apoio ao candidato John McCain.