sexta-feira, 26 de março de 2010

Mídia e Justiça



Fernando Sarney quer cobrar os seus U$ 13 milhões bloqueados do tesouro, por vazamento de investigação da PF

A censura ao Estado de S. Paulo é abominável. No Brasil, um sujeito que é apanhado com a boca na botija posa de vítima, como observou recentemente o antropólogo Roberto Da Matta, referindo-se à roubalheira em Brasília (mensalão, para mim, é reducionismo). Isso quando não ameaça recorrer á Justiça para ressarcir-se de bens não declarados – como no caso do Sarney empresário – e processar o FBI – como no caso do Maluf.

As reforma gráfica e editorial do Estadão melhorou muito a qualidade do bom jornal que ele sempre foi. As mudanças da Folha, lideradas por Sérgio Dávila, prometem. Ambos os processos refletem a crise da informação remunerada. Que pode se complicar muito se, associadas à evidente editorialização desses meios, a ela somarmos outras restrições como essa absurda censura imposta ao jornal.

O presidente Lula tem todo o direito de reclamar do viés que a grande imprensa, muitas vezes expõe, na cobertura a seu governo, por mais equívocos verbais e políticos que ele possa cometer. A editorialização da grande imprensa vem se acentuando, nos últimos anos, parte em consequência da crise acima referida, parte pela customização (pesquisas, didatismo, prestação de serviços), justificada pela necessidade de reter o público-alvo. Mas muito, ainda, infelizmente, pela defesa de idéias próprias que, queiram ou não, sempre permearam a atividade jornalística (o quarto poder).

Mas sempre que um veículo identificado com o atual governo – como a Carta Capital – publica uma critica a esse mesmo governo, que uma revista Veja consegue defender uma questão social, ainda que de um ponto-de-vista conservador, ou que uma Folha de S.Paulo dedica a metade de sua capa (25/3) ao protesto dos professores contra o governo Serra, virtual candidato da classe média e alta que estão no centro de seu target, eu comemoro.

Porque, não tem jeito: sem uma imprensa livre, os desmandos, as mazelas, os Arrudas, os Rorizes, os Malufes e os Fernandos Sarneys continuarão desviando da sociedade os recursos de que ela necessita para fazer-se representar num governo voltado às suas reais necessidades, interesses e utopias: como a utopia de uma imprensa livre, justa e soberana.

terça-feira, 23 de março de 2010

Os planos de saúde de lá e daqui


Parabéns à Folha de S.Paulo e ao Estadão, que perceberam a importância da aprovação do plano de saúde de Barak Obama, dedicando suas respectivas manchetes de ontem (22) ao fato. Não pude ver O Globo. O Estado, que talvez odeie os bancos mais do que o próprio Obama pós-subprime, comemorou o fato hoje (23), em editorial. Nos telejornais da manhã de ontem (22), o julgamento dos Nardoni inundou a programação. Minhas primeiras informações sobre a vitória do presidente norte-americano sobre as seguradoras e a indústria da medicina foram obtidas via TVE, CNN, Bloomberg e BBC.

Não gosto do tom confessional de alguns blogs, mas a pressão do trabalho me impede de ir muito além disso, neste post. Só queria registrar uma ponta de inveja em relação à democracia deles, na qual um governante que enfrenta uma crise de popularidade consegue um avanço social tão importante, enfrentando os poderosos interesses dos setores financeiro e hospitalar, em benefício do povo: simples assim. A ira dos republicanos ficou patente no trechinho de seção da Câmara mostrado pelos telejornais da noite, que, no entanto, não deram muita importância ao fato. Aqui, interesses mesquinhos entravam a aprovação de um projeto importante como o Pré-Sal.
A notícia do projeto de Obama poderia/deveria ter alcançado os meios de comunicação de hoje com suítes sobre a nossa situação nos âmbitos da saúde pública e privada, inversamente proporcional à conquista dos 32 milhões de norte-americanos beneficados pelo projeto de um presidente que está longe de desfrutar da popularidade do nosso. O único reflexo que presenciei na mídia local, além da breve observação do Guto Abranches (Conta-Corrente) quanto ao impacto positivo da aprovação do plano de saúde norte-americano no desempenho das bolsas, ontem, foi no programa Compras, Muito Mais, de Ariane Freitas, na CBN de hoje (23) - e todas as terças - sugerindo uma pressão maior da nossa agência reguladora sobre os planos de saúde.

Os planos de saúde, no Brasil, lideram as estatísticas do Instituto de Defesa do Consumidor, IDEC, pelo décimo ano consecutivo, com 22,3% das reclamações transmitidas ao órgão.