quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dorival Jr e Arnaldo Jabor: vítimas do contexto


Divulgação
Acabo de ler o manifesto assinado por Ferreira Gullar, Dom Evaristo e Hélio Bicudo, figuras acima de qualquer suspeita, moral ou ideológica. Cumprimento os três pela coragem que não tive de, pondo de lado a minha formação de esquerda e a consciência social que carrego no bolso de cima, repelir, não apenas os arroubos autoritários do nosso companheiro (cujos méritos não descarto), como também, a sindicalização da coisa pública dos últimos anos (que só podia dar no que deu). Também repudio a cegueira intelectual que sempre impediu o PT e o próprio Lula – de enxergarem além do seu pragmatismo simplório, muito mais neoliberal do que tudo que o grupo elegeu como inimigo da classe trabalhadora.

Inúmeras vezes tentei me aproximar do PT, nas décadas passadas, para esclarecer ou ser esclarecido. Não tive, obviamente, a atitude esperada de um intelectual petista, traduzida, em alguns casos, por uma disciplina típica do esquerdismo – presunçosa e sectária – em outros, pela paciência zebuína que vi muitos colegas esculpirem pacientemente para se inserir nos quadros do PT ou nos governos por ele conquistados. Como a minha visão também não cabia no lado oposto (partidos liberais, conservadores e assemelhados), restava-me a Banda de Ipanema.

É com base nisso que lamento duas vítimas desse final de campanha eleitoral, além do povo brasileiro e do melhor presidente que o Brasil nunca teve (segundo o Economist), claro: o Dorival Júnior, ex-técnico do Santos FC – que aqui homenageio pela coerência – e o Arnaldo Jabor, ex-comentarista da Globo. O primeiro, vencido pelo fisiologismo asqueroso que já não cabe nas comportas do poder – ganhar, não importa como – e acaba contaminando tudo o que nos cerca; o segundo, por uma pequena derrota para a máquina que ele mesmo ajudou a legitimar, em seus anos de vacância como cineasta – e que, no momento, não tem dado muito espaço para o seu filme recente, A Suprema Felicidade.

Assim que vi o Jabor – fragilizado pela epifânia de sua obra – quedar-se atônito diante do corte abrupto de uma de suas perorações acerca dos destinos do cinema mundial, ontem (21) no programa Globonews Em Pauta, fiquei preocupado.
O contexto era totalmente adverso: ao longo do programa, o entrevistado parecia implorar: – Levem-me ao seu líder. O Globonews em Pauta, por sua vez – como boa parte da imprensa brasileira que nada em liberdade, segundo o José Dirceu – não tem conseguido disfarçar o desconforto diante da desesperança que contamina a classe pensante do país. Isso dói mais do que a infantilização da arte de Lumière pelos produtores norte-americanos – como denunciou o Jabor – ou a ludicidade sobreposta às Artes Plásticas nesta 29ª Bienal – como digo eu.

Sobre a demissão do Dorival Jr, hoje, 22,
vou torcer muito pelo Corinthians, o que nos permitirá saborear, amanhã, a derrota de um esquema inspirado no jogo político, que não teme sacrificar o respeito e a ética por alguns trocados. A demissão do treinador bate de frente com todo o arcabouço institucional que sustenta competições como o Campeonato Brasileiro de Futebol, nele incluídos: a hierarquia de uma equipe que pressupõe comando e conjunto e a dignidade de seu comandante. Tudo isso, em nome da possibilidade de um ou três pontos a mais numa partida. - Quem vai ajudar esses pobres garotos milionários como o Neymar a se transformarem em adultos?

Voltando ao cineasta, com ou sem divulgação, não escaparemos de acrescentar mais algumas figurinhas de sua nova coleção de fotogramas aos nossos álbuns, a partir do filme que estréia em 29 de outubro, como ele conseguiu anunciar, antes de ouvir, constrangido:

- Infelizmente, Jabor, o nosso tempo acabou.