sábado, 18 de julho de 2009

Pandemia e (DES)Informação


Estamos no país do Paulo Duque, Renan, Sarney e seus parentes (nossos funcionários), mas a pandemia do H1N1 também merece atenção. Há apenas dois dias, o governo admitiu a transmissão sustentada da gripe suína no Brasil. Há dois meses e 15 dias, a revista de Economia e Negócios aí acima alertava que a pandemia estava fora de controle. A matéria sustentava que o vírus da Gripe Suína é o mesmo da pandemia global de Influenza de 1968 e do surto apelidado de Gripe do Frango que emergiu em Hong Kong, em 1997. Recomendava que as autoridades sanitárias do hemisfério sul não esperassem o inverno para desenvolver, fabricar e distribuir a vacina contra a doença. No pé deste post, reproduzo a notícia publicada hoje pelo Uol: Vacina, só em 2010.

Não estou discutindo a pandemia. Recomendar é fácil. O que nos interessa, neste blog, é a informação. A transparência ou a falta de transparência de quem tinha a responsabilidade de informar a sociedade brasileira a respeito. Competência ou falta de competência da imprensa em lidar com o assunto. Não acompanhei de perto – confesso – essa cobertura. Mas também não vi, nem de longe, o JN ou a capa da Veja falarem com algum pesquisador brasileiro a respeito. Não faltaram médicos respeitáveis de hospitais de marcas respeitáveis aconselhando primeiras medidas na TV. Muito menos, coletivas do ministro Temporão tranquilizando a patuléia (a expressão é do Gáspari).

Enquanto isso, além da minha própria Gripe Suína, numa das 8 frentes frias que varreram o Estado, nos últimos dois meses (os plantonistas atarefados do Hospital São Luís preferiram não investigar porque não tínhamos viajado ao exterior) e do executivo norte-americano para o qual servi de intérprete numa farmácia da Av. Luis Carlos Berrini (ele queria a melhor vitamina C do país, recomendei uma norte-americana), uma amiga que esteve com o filho na clínica Sabará revelou o comentário da pediatra do garoto: “O MS nos orientou a notificar apenas os casos abaixo de 2 anos e acima dos 60”: imagino que entre médicos, ordens são para ser cumpridas.
Estive na inauguração da nova ala do Albert Einstein, em S.Paulo (23/06) quando a imprensa quase atropelou o ministro em busca de um sinal do governo sobre a endemia do H1N1 que alcançava um nível crítico, no Chile e na Argentina. Ele recomendou o cancelamento de viagens aos dois países, o que causou um mal estar com as nações amigas, mas garantiu, uma vez mais, que no Brasil, as coisas seriam diferentes. Alguma diferença à vista?

UOL 18/07/2009 - 14h43
Vacina contra gripe suína só vai ser produzida no Brasil em 2010

Da Redação*

A vacina para combater a influenza A (H1N1) - gripe suína - no Brasil só será produzida pela Instituto Butantan a partir de 2010. O secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Reinaldo Guimarães, negou que a ausência de uma vacina ainda para este ano se deva ao fato de a Organização Mundial da Saúde (OMS) não ter enviado a cepa do vírus ao Butantan.
Sobre os comentários: Teresinha, acho que a sua informação, no primeiro ítem, bate com a minha. E, na minha opinião, o alerta do MS foi tardio. Aliás, aquele pesquisador seu amigo da USP cujo nome me escapa já previu o que está acontecendo há mais de um ano, quando estudou a gripe do frango, lembra? - Quanto à ação da mídia está na raiz do meu comentário. Zé Arnaldo: alguns colegas pensam que as redações não deram a devida atenção ao fato por falta de estrutura. Outros sugerem uma sintonia com o governo para evitar o pânico. Desde sábado, o Uol vem acompanhando o assunto de perto. Ontem, a Folha publicou chamada de capa e hoje os noticiários televisivos devem ocupar o vácuo das revistas deste fim de semana.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Aconteceu? - Virou manchete.


O marketing viral – que os guerrilheiros chamam de viralzinho – às vezes se confunde com a guerrilha. Vejamos: um piloto de corrida vai jantar com seu carro de competição numa rua de restaurantes famosos. O manobrista (mecânico disfarçado) recolhe o veículo, a imprensa registra o fato e o retorno ao patrocinador está garantido. Cena 2: todo mundo que viu o moço passar pilotando aquele out-door ambulante vai comentar o fato com o vizinho. Você agrediu o consumidor em seu habitat, provocou surpresa e também o obrigou a sair falando da sua marca por aí. O que aconteceu nesse caso? –Guerrilha, viral ou ambos?

Ninguém que desenvolve alguma atividade criativa gosta de rótulos, mas falando de conceitos, o que me interessa é o ponto em que a marca vira notícia ou vice-versa, para tentar descobrir até onde o leitor-espectador-ouvinte-internauta percebe, admite, aprecia ou se cansa dessas práticas. Aí pode estar a chave que os meios de comunicação tentam decifrar – imprensa, inclusive – antes que a morte os separe do grande público. A essa esfinge devemos o recente tom mais coloquial do Bonner, o blog da Petrobras (e o recém-criado blog CPI da Petrobras), o novo Projeto Folhas e a campanha das moscas da Folha (e, claro, muito mais).

Exageros e juízos morais à parte, a Exame desta quinzena trouxe matéria sobre um vestível (tênis com chip) com amplo espaço à marca que pensou nisso primeiro. Quantos de nós vamos comprar um tênis com um microchip pregado no calcanhar é outra história. Na Coréia e no Japão, o celular com bafômetro rendeu páginas de “retorno”. No (meu) tempo das estratégias de Comunicação, criar uma promoção ou um produto com o único fito de chamar a atenção da imprensa era quase uma conspiração contra essa sólida instituição democrática. Hoje, isso virou baboseira. Interessa? – Virou Manchete. Mudou a mídia ou mudamos todos nós?

Considerando tudo isso - a guerrilha, o viral, o merchandising até no cinema, as casas de espetáculos e as rádios-marcas, as TVs do grande varejo, monitores de elevador, a persuação inconsciente etc, me ocorreu perguntar: - Alguém aí quer patrocinar uma conversa densa que pretendo ter com a minha mulher ainda esta noite? (ela tem um monte de amigas e está no Conselho do nosso condomínio, que tem assembléia marcada na semana que vem).

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Queimadas - Sugestão de Suíte

13/07/2009 - 08h26
Lavrador morre carbonizado em canavial em Pontal (SP)
Juliana Coissi, da Folha de S.Paulo, em Ribeirão Preto

O trabalhador rural Sidnei dos Santos, 40, foi encontrado morto carbonizado na Fazenda São Pedro, pertencente à Usina Bela Vista, em Pontal (351 km de SP). A vítima pertencia a uma equipe de funcionários da empresa que ateava fogo ao canavial na sexta (10) à noite. O Ministério do Trabalho e a Polícia Civil irão investigar as causas da morte.
Santos era responsável pela equipe de queima que ateava fogo em parte da plantação naquela noite. De acordo com informações da Polícia Militar, Santos entrou no canavial próximo à meia-noite. Os amigos deram por sua falta e começaram a procurá-lo. Algumas horas depois, ele foi localizado já carbonizado.

A equipe de perícia da Polícia Civil esteve no local. O corpo foi encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal) de Ribeirão Preto. Santos, que era casado e tinha uma filha, foi enterrado anteontem em Pontal. O gerente regional do Ministério do Trabalho e Emprego, Paulo Cristino da Silva, disse que o órgão irá investigar se a morte ocorreu por inexperiência ou se houve falhas na segurança do trabalhador.

Essa notícia também foi transmitida hoje pela Globonews e G1 (Agestado), sem grande destaque (o tema do dia é Sarney e a governabilidade). Mesmo assim, fiquei interessado na suíte: será que a Única vai ser ouvida? Há poucos dias, um produtor rural da região admitiu, em conversa reservada, saber que a produtividade da colheita mecânica é 30% maior. "Mas não há dinheiro para investir", queixou-se. E disse que, pelo menos em São Paulo, as queimadas estão com os dias contados. Minha pergunta é: -Quantos? - No último acordo firmado pelo Estado com os produtores paulistas para reduzir gradualmente as queimadas, o governador Serra afirmou que, na prática, o acordo abreviou o prazo legal do fim das queimadas, de 2021 para 2014. Abaixo, uma outra notícia, publicada pelo Estadão em 1/07/2009.

Mecanização na colheita atingiu, entre abril e maio, 62% no Centro-Sul.
Levantamento do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) aponta que, entre abril e maio, os dois primeiros meses da safra 2009/2010, a colheita mecânica foi feita em 62% da área de cana no Centro-Sul e 67% da área paulista. No mesmo período da safra passada, a colheita mecânica atingiu 53% no Centro-Sul e 57% em São Paulo, maior Estado produtor.

O avanço da colheita mecânica não significa que a queima da palha da cana-de-açúcar tenha recuado na mesma proporção. Os dados do CTC mostram que 49% das áreas colhidas em São Paulo eram de cana crua, ante 47% em igual período do ano passado. O gerente-geral de Produtos do CTC, Luiz Antonio Dias Paes, explica que a existência de muitos equipamentos antigos nas propriedades leva à necessidade de queima antes de iniciar a colheita mecânica.

Aproveito para puxar a orelha do meu competente amigo, Ricardo Boechat, por ter promovido o tabaco em sua coluna na Isto É desta semana, enquanto a ministra Marina Silva descia o pau no produto (Dupla Prevenção, FSP, hoje, 13/07)