sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

E se a Natura comprasse a Redbull?


Esqueça a sucessão presidencial, Chaves e Belomonte: esta discussão você só encontra aqui


Enquanto os déficits publicos avançam, da Grécia aos EUA, passando pelo Bric, tumultuando pregões, mergers & acquisitions seguem fazendo a felicidade dos grandes escritórios de advocacia e consultorias organizacionais: Itaú/Unibanco, Perdigão/Sadia, Braskem/Quattor, Gutierrez/Cemig, Shell/Cosan, Votorantim/Cimpor.

A pergunta é: - Nos próximos dias/semanas, como é que um funcionário do Pão de Açúcar (ou, que seja, do Ponto-Frio) vai atender um cliente das Casas Bahia? – Já comprei em ambos, mas, para que ninguém pense tratar-se de elitismo de minha parte, informo que o Cafu, nosso tetra-campeão, acaba de trocar sua antiga mansão, na Riviera de São Lourenço, Litoral Norte de SP, por outra, em Peruíbe, Litoral Sul, em nome da liberdade – de construir uma mesa de alvenaria na calçada da praia em frente à casa e poder tocar pagode até o dia amanhecer, prazeres proibidos na antiga residência.

Mas quero falar de um outro tipo de cultura, a empresarial (também adoro futebol). Vamos imaginar que a Taurus, em vez de formar uma joint venture com a Israel Weapon Industries (IWI) para fabricar o fuzil de assalto Tavor 5.56 mm, resolvesse fundir-se com a Whirlpool/Brastemp, para produzir um lança-mísseis com acessórios na cor e no formato escolhidos pelo comprador: - Como seria a adaptação cultural entre os funcionários das duas empresas?

Será que as companhias, em geral – que levaram tanto tempo para construir pilares de marca, valores, missão e outros sinônimos de sua realpolitik – estão pensando nesse aspecto de seus processos de M&A, vencidas as etapas de due dilligences e reorganização de seus respectivos capital e participações?

No post que antecedeu este atribulado mês de janeiro, a respeito da discrepância de valores observada na campanha de fim de ano do Santander/Real, esta já era a questão. Se eu pudesse e o dinheiro desse, eu convidaria craques como o Fabio Steinberg, o Mário Ernesto Humberg, o Rodolfo Gutilla, o Walter Nori, o decano Nemércio Nogueira (que ainda está por aí) e até o professor Wilson Bueno - entre outros que não vou citar por serem meus concorrentes - para discutir este assunto que, convenhamos, promete.

Como isto é apenas um post, e não um artigo, com o objetivo de plantar e não de colher, devo admitir que, mesmo sem a devida acurácia e o tempo disponível, ja notei, desde o post do reveillon (e não, obviamente, em consequência dele), uma sensível mudança no tom da comunicação do Santander/Real. O que, guardadas as proporções, é inteiramente plausível, empregando-se, por exemplo, uma colher da inteligência insinuada na última campanha do pré-merger (o valor das idéias) numa generosa massa da consciência pública preconizada pelo segundo, nos últimos anos.

As saídas existem, mas nem sempre são visíveis para quem está envolvido na receita. É aí que entra o cheff, cuja experiência e o talento certamente balancearão os demais ingredientes de um e de outro agente. Simples? – Nem sempre. Paixões, medos e rancores estarão sempre rondando. Independentemente da eventual canibalização – ou não – da marca adquirida, é coisa para especialista.

Não sei se as empresas e seus consultores envolvidos nessas últimas fusões estão atentos a esse detalhe. Ilustração: The Upside downs, de Gustave Verbeek