quinta-feira, 7 de março de 2013

Três notícias para se lidar com os mercados


             Paisagem carioca: o trágico e o sublime (obra na Lagoa, 25/2)
No meu tempo de redação, além do prazer de escrever alguns horóscopos (não, não é mito) e matérias inventadas, como a dos fantasmas do Joelma e algumas guerras indígenas, a minha alma atormentada adorava aquelas materiazinhas de serviço, com cara de Organização & Métodos: cinco dicas para se evitar o abismo da existência; sete conselhos para se fugir de enterros, congestionamentos e missas prolongadas; guia da reciclagem de sonhos perdidos; como tomar um café de padaria sem morrer intoxicado pelos comentários do entorno; seis passos para se acabar com as frustrações do casamento; como assistir aos melhores filmes da Mostra de Cinema de S. Paulo sem levar multas por tráfego irregular nos corredores de ônibus na Capital.

Faça o seu salário render, mini manual de qualidade de vida ou como enriquecer sem fazer força servem apenas como títulos de comédias ligeiras, se você tiver a coragem de se aventurar por esse mundo, o que não recomendo: a diversão é boa, mas a concorrência é braba (vide Miguel Falabela). Se renovar piadas na Internet rendesse algo, este sim, seria um ramo promissor: não aguento mais ler a mesma piada do árabe e do judeu e seus sutiãs pretos. Seria bem melhor do que escrever perguntas estúpidas para respostas inteligentes e postá-las no Quora, a nova mania da Internet, esperando que alguém se interesse pelos neurônios que lhe restam, quando – e se – a rede social estiver bombando.

Ontem mesmo, li, deliciosamente, numa revista especializada, a matéria “10 Tendências em Mobilidade”. A principal informação era de que os tablets vão perder espaço para os laptops, devendo, no entanto, permanecer ativos em nichos como: funcionários remotos, forças de vendas e indústrias específicas, como a saúde. Para quem não trabalha na área, informo que a boa e velha propaganda médica, depois de vários dribles nas regras e interdições da chamada ética do setor, proibiu os estandes e folhetos que animavam os congressos da indústria, há cerca de dois anos. Desde então, tablets e coquetéis tornaram-se uma combinação infalível para o marketing dos laboratórios.

A constatação de que os executivos vão continuar preferindo os laptops, embora pareça óbvia para você, leitor inteligente, sustentou-se em sólida pesquisa do Yankee Group. Uma outra pérola de presciência desse estudo: os aplicativos móveis terão que ser divertidos. Mais uma: o design thinking (a lógica do Design) será parte de uma nova metodologia de gerenciamento de produtos móveis. Na verdade, uma – e apenas uma – das 10 tendências anunciadas pela reportagem tinha algum sex appeal, embora não trouxesse nenhuma novidade: 80% das companhias mergulharão em algum tipo de “traga o seu próprio algo” (Bring your own device, conceito também conhecido pela sigla ByoD). Mas, atenção: a matéria não ouviu nem o Jack Nicholson, nem o presidente do STF, Joaquim Barbosa.

A propósito do destempero emocional do ministro do STF contra o colega do Estadão, Felipe Recondo, não achei simpática a reação do colunista Tutty Vasques, que atribuiu o dia de fúria de Joaquim Michael Douglas Barbosa a uma possível briga doméstica com a namorada de Rondônia, Handra Meire Amorim, de 23 anos (conflito de gerações?). Afinal, nunca vi o Tutty afirmar que a cara sempre fechada do vice-presidente, Michel Temer, seja consequência de seu desconforto em relação às faturas do cartão de crédito da jovem esposa, Michelle Araújo (43 anos mais nova), mesmo considerando o valor atribuído pelas fofocas a essas faturas: cerca de R$ 60 mil mensais. Tanto o ministro quanto o vice-presidente têm, a meu ver, bastante experiência para lidar com essas questões.

Uma briga entre o Gabriel Chalita e seu personal trainer, (acusado de uma nomeação indevida como assessor da Fundação para o Desenvolvimento da Educação, pelo então secretário de Educação de SP), esta sim, poderia degringolar em conflito: afinal, ambos são jovens. Mas nunca devemos negligenciar a frase do conselheiro Henry Kissinger: “O poder é o maior afrodisíaco”.

Já no caso da Igreja Católica, em busca de um novo papa, essa premissa deve ser afastada. Mesmo que o novo pontífice venha a ser D. Odillo Scherer, gaúcho de boa cepa, dificilmente a instituição vai aceitar o meu conselho de acabar com o celibato sacerdotal, para enterrar de vez todos os casos, suspeitas e processos de pedofilia que vem corroendo a reputação do apostolado romano. Não se trata de sucumbir ao Iluminismo, este senhor com mais de duzentos anos, mas de aproveitar a oportunidade para atualizar alguns cânones associados à evolução do Homo Sapiens que, afinal, permanece no centro das preocupações da Santa Madre, ainda que a sua a matriz ideológica advenha do próprio núcleo da criação.

Bem. Se o Elvis da Teoria Cultural (OESP, 5/3), Slavov Zizek – que chega ao Brasil a fim de promover o seu livro “Menos que nada” (8/3, Teatro Paulo Autran-SP) – consegue recuperar o velho Hegel (o pai da perspectiva histórica) para renovar a teoria do materialismo dialético simplesmente substituindo a hegemonia do capital de ontem pela autonomia do capital financeiro de hoje, tudo isso usando, como vitrine, a própria imprensa conservadora, então, de fato, tudo é possível. 

Psicanálise à parte, nós, parte dessa raça que se intitula humanidade, já aprendemos, com nossas perdas recentes – o papado de Joseph Ratzinger, a conspiração cancerígena que matou Hugo Chavez, a Rakelle (primeira personagem da atriz aiuruoquense, Isis Valverde), a morte de David Brubeck e do Chorão – que, na natureza, perde-se muito mais do que moedas de baixo valor e objetos esquecidos.

No entanto, o mesmo William Faulkner que definiu o homem como um somatório das próprias desgraças - “A gente acha que um dia as desgraças se cansam, mas aí, é o tempo que se torna a nossa desgraça” - também afirma: “O pai disse que ela adora a Caddy. Ela gosta das pessoas por causa dos defeitos delas” (O Som e a Fúria). Hoje, 7/3, 24 horas depois do luto moral que pairou sobre a morte do Chorão – esse espelho do Brasil – a mídia e os parceiros famosos, finalmente, iniciaram a sua catarse, em linha com a memória de Hegel (independentemente das idéias de Zizek). O filósofo sempre afirmou a identidade única do ser humano, em seus dois extremos: o sublime e o terror.