quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Quebra tudo, Obama!

Cruxifixação, de Pablo Picasso

“Quebra tudo, lá!” é o que o Barak Obama deve ter ouvido dos amigos dele, em Washington, antes de embarcar no Airforce One para participar dos funerais de Nelson Madiba Mandela. O mesmo conselho deve ter chegado aos “nóias” da região central de São Paulo que, não contentes em transformar as ruas Helvétia e Dino Bueno numa favela e produzir blecautes privados nos edifícios daquela zona, como o Miri (praça Júlio Prestes), estão arrebentando bueiros e caixas de luz da zona sul, em busca de fios e placas que vão virar pedras de dois reais, como ocorreu na madrugada de hoje (11/12), na avenida Roque Petroni, interrompendo o trânsito, a 100 metros do Shopping Morumbi (semáforos apagados). Quero ver o Chico Buarque fazer disso uma canção.

Como acordei às seis, animado pelos apitos dos CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), peguei o livro do Cláudio Santos, “Macho do Século 21”, que estava na cabeceira, para reler a definição de democracia que ele tentou inventar, depois de viver quase dois anos na supercivilizada Cingapura, onde você pode levar uma chibatada por pichar um muro, ser preso por estar nú dentro de casa ou ser multado por mascar  chicletes.  Não vou estragar a sua leitura, mas vale a pena entender o que está por trás desse folclore e o que essa semidemocracia, um dos 10 países menos corruptos do mundo, devolve aos cidadãos que pagam seus impostos.
Além do ciúme de Michelle Obama, as redes sociais, ontem (10/12) estavam lotadas das tradicionais manifestações de desprezo da “esquerda”, desta vez, em relação aos sinais de pesar exibidos pelo “stablishment” pela morte do líder sul-africano, cuja luta contra o apartheid não mereceu, de parte desse mesmo “stablishment”, à época, a mesma admiração manifestada agora. Correto. Mas toda essa festa em torno do grande lider deve-se, justamente, ao seu pragmatismo, simbolizado na célebre frase de que é preciso libertar não apenas o prisioneiro, mas também o carcereiro. Pragmatismo este, aliás, derivado do socialismo no qual acreditamos – e de alguma forma, conseguimos – mudar, senão o mundo, a nossa compreensão dele.

De outro lado, além do não racismo (ou cultura multirracial) o CNA (Conselho Nacional Africano) de Mandela nos ajuda a compreender o que se passa aqui, em certa medida, pelo olhar do jornalista Bill Keller, do NYT (New York Times), que o Estadão de hoje (11/12) traduziu: “O que incapacita o CNA não é a doutrina. É alguma coisa da natureza dos movimentos de libertação. Unidos pelo que são contra, eles tendem a ser conspirativos, a dissimular o dissenso, a privilegiar os fins aos meios”. Que tal, Ruy Falcão?.
Vivam os grandes jornais – ainda circulando ou já transformados em centros de produção de notícias para meios diversos. Não fosse por eles, não saberíamos que os funerais de Mandela, além de provocar uma fofoca na corte e um novo Fla-Flu nas redes sociais, ensejaram um longo convívio de oito horas entre alguns dos nossos líderes - antigos e atuais - a bordo do avião que os levou à África do Sul, livrando-os de opinar sobre o grande debate nacional da véspera (10/12), que não era, nem o pibinho do  Mantega, nem a corrupção na prefeitura ou no governo estadual de São Paulo, nem a “tempestade perfeita” do William Waack e do Luiz Gonzaga Belluzzo, e nem a lista dos “micos do ano” do Fim de Expediente, programa da rádio CBN, mas, sim, o MMA (Mixed Marcial Arts) dos “torcedores” do Atlético Paranaense contra os do Vasco.

E já que este post virou propaganda de personalidades públicas e coleguinhas, vou aproveitar para votar num dos tais “micos do ano” relacionados pelo Dan Stubach, Luis Medina e José Godoy, com as minhas devidas explicações, entre parêntesis: Eike Batista (ex-marido da Luma), José Dirceu (ex-futuro gerente de hotel), Nicolas Maduro (como Papai Noel), Obama (com Helle –AlgonãovaibemnoreinodaDinamarca – Thorne Schmidt), Roberto Carlos (o biografado), Feliciano (o bispo da cura gay), Pato (batendo pênalti), Dilma (vaiada na Copa das Confederações), Mantega (pibinho) e o Rei do Camarote (continuo sem saber quem é). E o meu voto vai... para... Nicolas Maduro! – que conseguiu piorar o que já era tão ruim.

O trio da CBN também relaciona personagens do ano, mas nesta escolha, não tive dificuldade. Mandela é hors concours, como se diz: já tinha passado para a História antes mesmo de embarcar em sua última viagem. O homem do ano é, fácil, o papa Francisco. Não entendo nada de Teologia e até hoje tenho dúvidas se o sacrifício de Cristo – sem dúvida, um grande cara – cujo nascimento se comemora no mesmo dia em que os persas, depois os gregos e, em seguida, os romanos, celebravam a Mitra (25 de dezembro), está ou não relacionado a este último culto, como Picasso insinuou, na pintura acima.

Não sei se a base do cristianismo vem de nossa tradição ancestral de sacrifícios aos deuses antigos. Também ignoro se toda essa história de vida após a morte e oposição do bem ao mal do cristianismo veio no mesmo pacote. Mas que esse papa mudou a relação da Igreja com a sua própria doutrina, disso, não tenho dúvida.
Então, vamos encerrar por aqui: tranquilidade e paz para quem precisa, agitação para quem prefere, mobilidade para quem ainda mora aqui e mais juízo para todos nós; atenção a quem nos frequenta ou habita, e respeito às tradições de quem crê, da Mitra ao Cristo, da Cabala ao Buda.  Em tempo: minha opção foi feita muito antes da divulgação da escolha do personagem do ano pela Time.

4 comentários:

  1. Mais um instigante texto do Mestre. Obrigado por me fazer parar para pensar em tanta coisa importante (ou não, como diria o Veloso...)

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    1. Obrigado pela leitura e pelo mestre, mas eu continuo sendo um aprendiz. Se existe algum mistério nesse texto, Victor, não sei, mas faz tempo que eu venho pensando nas semelhanças entre o cristianismo e o culto que o antecedeu lá naquelas paragens - só não tinha "desconstruído" a tela do Picasso, antes. Prestei atenção nela depois de ver o filme Tese sobre um Homicídio, do argentino Hernán Goldfrid, que é legalzinho. Abração, meu caro!

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  2. Isso. Eike Batista voltou a ser (ex) marido da Luma de Oliveira (meus sais). Alguma coisa voltou ao normal nesse 2014. E que em 2014 chova Brunas Marquezines na sua horta, meu caro Bob. Felicidades e saúde. Enéas

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    1. Maravilha, Enéas, saudades. Espero conseguir visita-lo este ano, ainda em condições de tragar uns paratis no teu boteco favorito. Abraço forte.

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