terça-feira, 21 de julho de 2009

O risco eleitoral e o deus Mercado



Se o Celso Ming não fosse competente, não resistiria a tantos anos na vitrine do colunismo econômico brasileiro. No entanto, permito-me fazer algumas observações sobre o seu artigo de hoje (22) no Estadão, Risco Eleitoral, sobre a precificação, pelo deus Mercado, da eleição de qualquer um dos dois principais candidatos à presidência da República em 2010, a ministra Dilma ou o governador Serra tidos, ambos, como antípodas da política econômica conduzida pelo atual presidente do BC, Henrique Meirelles: afinal, os juros futuros estão subindo!.

A duas páginas de distância do artigo de Ming – e é isso o que me dá saudades do jornalismo impresso – o mesmo Estadão informou a queda de R$ 56,4 bi na arrecadação do governo, sem a devida contrapartida em cortes no orçamento deste ano, ao contrário do que imaginava o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, recheado de boas intenções. Afinal, estamos às vésperas da eleição, a inflação está sob controle, os juros estão caindo, o real se apreciando e até os Estados Unidos – a maior economia do mundo – opõe, com discreto recato, o velho Keynes ao velho Adam Smith.

Significa que não se pode atribuir unicamente ao desenvolvimentismo de Dilma ou à independência de Serra – e muito menos, à saída de Meirelles do BC (prevista para daqui a alguns meses) – a expectativa de juros futuros elevados. Isso é uma aposta dos operadores que pode incluir, entre outras variáveis, uma avaliação excessivamente otimista do mercado interno ou uma análise muito pessimista do mercado externo. Além, é claro, do principal ingrediente de sua atividade, que é a especulação pura e simples. Afinal, todo mundo acredita (até os bancos) que a SELIC vai se manter em torno de 8,5% até o fim do ano, podendo voltar aos dois dígitos somente lá pelo segundo semestre do próximo ano.

Mas o que mais me chamou atenção no artigo do Ming não foi a tese e sim o corolário, no qual o articulista, meio bravo,recomendou aos dois pré-candidatos que exponham, desde já, seus planos (teses econômicas), para evitar que as expectativas se deteriorem no curto prazo. Pôxa, Celso, será que o Deus Mercado é assim tão poderoso?

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