terça-feira, 18 de agosto de 2009

Salvar o Jornalismo


No Roda-Viva de ontem (17/08) com Demi Gestchko, presidente do Nic.br (Núcleo de Informação do Comitê Gestor da Internet no Brasil), o professor Sílvio Meira, da UFPE, que também é cientista-chefe do CESAR (Centro de Estudos de Sistemas Avançados do Recife) ajeitou, com uma freada brusca, os passageiros do bonde que discutia o futuro dos jornais atropelados pela Internet: “Não se trata de salvar os jornais, mas o Jornalismo”, assinalou.

Jornalismo x conteúdo grátis, essa briga que o Chris Anderson encontrou para vender os seus livros Free-Grátis (R$ 59,90) e A Cauda Longa (R$ 65,00) não resiste à mera reflexão de quem faz o quê, como lembrou a amiga Lúcia Guimarães, em artigo publicado há dias no Estadão. Também não se trata simplesmente de hierarquizar as informações, como ouvi, pela primeira vez, de Roberto Civita, numa conversa em Buenos Aires, há dois anos. A sacada de Gay Talese (O Reino e o Poder), em visita recente ao Brasil, também foi relevante, ao lembrar que o Jornalismo requer o que chamávamos (no tempo do Nelson Motta) de esforço de reportagem.

Nem o marketing dos papas-defunto, nem o impacto da tecnologia e da mobilidade, nem a preguiça pura e simples que grassa na sociedade contemporânea (não se preocupem, não está no Google) vão acabar com o Jornalismo, essa combinação irresistível de realidade, argúcia, perspicácia, determinação e talento, sobre uma fina massa (crocante) de conhecimento, como ilustram as campanhas recentes da mosca da Folha e do Estadão de hoje (página A22).

Mas não é o Marketing, nem o desespero das tiragens estagnadas – enquanto o papel e o diesel não param de subir – que vão salvar o Jornalismo. Além da qualidade da produção (vide reportagens do médico, do bispo e da família do coronel), é preciso ter cuidado com a customização excessiva, as pesquisas, a partidarização. Podem me chamar de Poliana, mas, na minha opinião, a única forma de fortalecer a velha instituição – que vai continuar permeando as redes sociais, os celulares, os kindles e as lousas eletrônicas – é a recuperação do seu velho espírito: isenção, criticismo e análise.