terça-feira, 29 de março de 2011

A valsa do gato




Hoje (29/3), que notícia contabilizará mais acessos em nossos portais (G1, Uol, IG e Terra)? – A morte de José de Alencar ou a censura à revista Caras, proibida de publicar a carta de Cibele Dorsa, ex-do cavaleiro Doda Onassis, ela que decidiu abandonar a vida no último sábado, 27? Respeito a dor das pessoas que ficaram, mas o contraste entre os personagens e as características das duas notícias é flagrante.


Em segundo plano, temos a contenção da fúria de Kadafi, assumida pela Otan e a reta final do Big Brother, cuja última edição parece não ter agradado nem o seu grande público, formado pelo noveleiro, Walcyr Carrasco, e pelo metteur em scène, Jorge Fernando. Inevitável a comparação entre essas notícias e a rabugice de um amigo não-identificável com a escalada do SBT, no dia do alerta nuclear no Japão, que coincidiu com a visita de Barak Obama ao Brasil e com o início do bombardeiro à Líbia. A primeira notícia do SBT foi: como contratar pela Internet; a segunda, a volta das perucas aos salões de beleza. Ok, o hard news virou commodity, mas vai gostar de especialização assim lá em Madureira... - Ei! Adoro o lugar. Fui o primeiro a entrevistar Silas de Oliveira para O Globo, nos idos 70 (Heróis da Liberdade).


Não visito este blog desde a publicação do último post, aí abaixo, homenageando meu parceiro que se tornou cunhado, Luís Augusto Corá, e que deixou este mundo há pouco mais de um mês, usando a mesma plataforma de embarque na qual nos despedimos, hoje, do vice-presidente José Alencar e, na semana passada, do amigo, Sidney Basile, jornalista da velha cepa, homenageado, sexta-feira (25), por um belo artigo de Eugenio Bucci, no Estadão. Basile freqüentava a mesma banca de peixe que eu, aos sábados, no Ceagesp.


Não gosto do Big Brother e só me lembro de relance dos pregões da minha infância, mas o Ceagesp está, para mim, assim como os letreiros e pára-choques de caminhão devem ter estado para o Marcelo Duarte, do Guia dos Curiosos, que está fazendo 10 anos: fatias de bom humor, entremeadas de saberes, afastando-se, cuidadosamente, os preconceitos: “O amor é cego, o casamento abre os olhos”, “Para olho gordo, colírio diet”, “Quem dá aos pobres, paga o motel”.


Bons tempos, aqueles, em que apenas alguns caminheiros tomavam rebite e que o Fantástico não precisava derrubar o chefe da Polícia para chamar a atenção para o perigo que ronda as estradas: - Você fica com os buracos e falta de sinalização ou prefere a venda de crack nos postos das rodovias federais, pagando com o cartão de crédito? - Ainda acho melhor a edição estratégica da TV Record, que arranjou uma reportagem um parto apoiado por PMs para exibir logo após a gravação da tentativa de assassinato de um menor por PMs de Manaus-AM.


Afinal, o nosso principal conflito deixou de ser de classes, já que, desde Lula, somos todos de classe média. E também de gerações, uma vez que nós, velhos, podemos usar roupas de bebês e os bebês, roupas de velho (perguntem à Gloria Kalil). E mais: se o Arthur Xexéo, ex-editor de Cultura do saudoso Jornal do Brasil, em sua participação na rádio CBN, no dia da visita de Obama, pode afirmar não saber o que diabos o presidente dos EUA veio fazer no Brasil, por que cargas d’água, os jovens editores do SBT deveriam sabê-lo? – Na dúvida, falemos de perucas.


E, pensando em cabelos, procuro uma composição de Wilde para refletir sobre as nuances que governam o nosso mundo, mas a única coisa que me vem à mente é uma velha frase de pára-choque de caminhão: “Não sou o dono do mundo, mas sou filho do dono”. Arrogante, mas cheia de sutilezas. E típica do nosso tempo.


Foi assim que um de meus filhos considerou apenas natural que sua jovem prima, que fará 15 anos este ano, e que, felizmente, ainda não tem compromisso, o convidasse para a dançar a valsa principal de seu aniversário, no fim deste ano: “Claro”, comentou. “sou o primo mais gato que ela tem”. Deve ser compensação: eu costumava dizer a ele que o D. Pedro, nosso primeiro imperador, foi bem melhor do que o segundo. Hoje, não tenho tanta certeza.