quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Fim de carnaval


De volta ao trabalho, hoje, quarta-feira, 18/2, depois de uma pausa revigorante em Aiuruoca-Minas, ao pé Serra da Mantiqueira – onde revisitei cachoeiras da era  pré-Isis Valverde e assisti a uma animada discussão sobre as contribuições de Ramsés II e Amenotep III à espiritualidade humana – ouço, pela Rádio Estadão, uma acalorada polêmica entre os jornalistas, Cesar Sacheto e Luís Antonio Prósperi, sobre o momento no qual o técnico Felipe Scolari, também conhecido como Felipão começou a se perder: se antes ou depois da queda do Palmeiras à segunda divisão, em 2012.

“Ele já tinha sido demitido do Chelsea”, disse um. “Mas tinha recuperado o prestígio da seleção brasileira ao ganhar a Copa das Confederações, em 2013”, rebateu o outro . A conversa teve muitas nuances e passou, claro, pelo retumbante fracasso dos 7 x 1 para a seleção alemã. Finalmente, ambos concordaram: sem jogadores, nenhum técnico consegue fazer milagres. “Nem o Anderson Silva, sem os anabolizantes”, teria arrematado o comentarista do programa, Roberto Godoy, em cuja opinião, o Anderson, além de tudo, foi burro: “Todo mundo sabe que a androsterona é um agente cancerígeno”.

A conversa do Vale do Matutu sobre os faraós foi mais produtiva: descobri que, ao enfrentar um leão, você não pode quebrar a sua harmonia. Senão, babau. Não por acaso, imagino, reza a cultura egípcia que Amenotep III foi um injustiçado: passou para a história como um déspota epicurista que vivia caçando leões só para quebrar o tédio, mas, em vez disso, foi um orientador do povo que seguia à risca a sua missão divina e matava leões apenas para ensinar  que a ordem deve prevalecer sobre o caos.

No Brasil de agora, o PT, que completa 35 anos, denuncia uma conspiração das elites para enlamear a sua reputação , responsável, segundo a imprensa burguesa, pelo mais alto índice de corrupção jamais visto neste país. O objetivo da intentona, além de comprometer a moral da agremiação, seria interromper as conquistas do povo e da democracia. Como o acesso à educação que, pelo visto, só não alcançou a população da capital paulista, cujo governo (petista) está sendo obrigado a substituir as lixeiras de plástico das ruas por outras, mais econômicas, feitas de saquinhos presos em aros de arame. Tudo por causa de uma parcela de vândalos que não aprendeu a conviver em sociedade.

Quem sabe essa providência sensibilize as pessoas que têm por hábito jogar lixo nas ruas, como no meu quarteirão – personagem frequente das coberturas das inundações – por onde a equipe de limpeza do Fernando Haddad só passa uma vez, a cada dois meses.

Enquanto a presidente Dilma reflete sobre a queda de sua popularidade numa base naval de Aratu, Bahia, especialistas em energia preveem um aumento no preço do insumo superior a 60% este ano – isso para as indústrias. O ex-presidente da Confederação que representa o setor e atual ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro Neto, por sua vez, luta para desfazer os embaraços criados pela diplomacia dos dois governos petistas que o antecederam nas relações comerciais do país, tentando não desprezar o maior mercado do mundo, que, ao contrário do que assessores informaram à chefa da Nação, não é o nosso.
  
Havia outras notícias, hoje, ao redor, além das inundações e da falta d’água, dos estupros vitimando adolescentes cada vez mais jovens e dos brutais acidentes nas estradas: a expectativa quanto ao resultado da campeã do carnaval carioca que, mais uma vez, refletiu fatos marcantes da nossa sociedade, como: a frequência da classe média aos motéis, os esportes radicais (paragliders, surf, cama elástica), a crise da Petrobras, o antagonismo entre a liberdade e racismo, e aqueles temas praticamente inéditos nos desfiles de escolas de samba, como a importância do negro na nossa história e a força da mulher brasileira.

Em sua crônica do dia, na FSP, o grande Rui Castro especula por que as atuais marchinhas dos blocos não “estouram” como na época de Lamartine Babo, Haroldo Lobo, Braguinha e João Roberto Kelly: “Garota Saint-Tropez”, “Eu agora sou feliz”, “Mulata Iê-iê-iê”. Afinal, milhões de jovens saíram às ruas para comemorar o carnaval. Seria – ele indaga – falta de percepção desse potencial, por parte da “indústria do carnaval”? – Estamos velhos, Rui, deve ser isso: nada gruda na geração dos tablets e do prazer instantâneo, exceto o band-aid. Provavelmente, a vencedora do carnaval carioca será a escola que fez o desfile mais técnico.

Mas o papo esotérico, este sim, faz sucesso entre os jovens. No meu tempo, eram os deuses astronautas. Sirianos, de acordo com a leitura atual da Confederação das Galaxias sobre o trabalho do Conselho Principal de Lira na Constelação Vega, em curso, desde os anos 1980, para integrar a terra aos 36 outros planetas do sistema solar, administrados pela organização. O objetivo é livrar o nosso planeta da barreira de frequência que obstrui a nossa comunicação com os demais planetas, por causa da carga negativa que nos foi imposta, há quatro milhões de anos, pelos alfa draconianos e pelos reptilianos  (esconjuro), em guerra com os seres da luz.

A seguir, no meu tempo, vieram: A Erva do Diabo, de Carlos Castaneda (1968), cujo título original era Teachings of Don Juan – A yaki way of knowlewge e O Despertar dos Mágicos, ou Le Matin des Magiciens, de Louis Pawels e Jacques Bergier (1969). Empolgados, mergulhamos no Mistério das Catedrais, de Fulcanelli, pseudônimo adotado pelo politécnico francês Paul Dacoeur (1839-1923), segundo o seu discípulo, Eugene Canseliet, em entrevista ao Le Figaro, em junho de 1965. E assim, viramos todos alquimistas, incluindo o Jorge Benjor e aquele amigo do Raul (Seixas).

Para os esotéricos do momento, aliás, as emanações de energia do mundo superior – das quais os faraós, Jesus, Buda, Maomé e outros profetas – foram apenas transmissores ou guias, esse caminho tem mais atrativos do que a Disney, a ciência de Stephen Hawkins e do Thomas Piketty, que a tecnologia de Jobs ou a arte de Tomie Otake, que acaba de ultrapassar a nossa fronteira.

Você pode se divertir lendo a entrevista de Ramsés II sobre a batalha de Qadesh (“Eu acreditava numa vitória fácil sobre os hititas”) e o segredo para viver 90 anos, numa época em que a maioria morria aos 35 anos, mas não tem porque dar risada dos passos que, segundo os mestres esotérios, nos faltam para ascender a uma escala mínima da evolução: acabar com as guerras e com a exploração indiscriminada dos recursos naturais e das pessoas; eliminar as drogas pesadas, a intoxicação e a fome; amarmos uns aos outros; aceitar, individualmente, a responsabilidade coletiva pelo planeta; acabar com a corrupção desenfreada, com a opressão religiosa e com empobrecimento das massas em benefício de alguns controladores da riqueza.


Nada mal, para começar, certo?