sexta-feira, 13 de julho de 2012

Conselho de Mãe


D. Eugênio Salles apoiou abertamente a ditadura e rezava missas encomendadas pelo Dr. Roberto, meu xará, sempre que um incêndio destruía um lote de equipamentos da TV Globo, inicialmente bancados pela associada Time-Life, mas assegurados em nome dos proprietários locais. Por trabalhar no jornal da Casa, tive que “cobrir” pelo menos uma dessas celebrações. Segundo a lenda, foi assim que a família consolidou a sua participação majoritária no império em que se transformou a Venus Platinada. Eu não teria me lembrado disso, se o caixão do velho sacerdote não tivesse sido adornado por uma pombinha branca, nas fotos das primeiras páginas dos nossos jornais de anteontem (11/7), anunciando o seu velório.


Se a pombinha fosse Espírito Santo, certamente teria escapado para a foto ao lado, do maranhense, Rejaniel de Jesus Silva Santos, que encontrou R$ 20 mil roubados de um restaurante japonês, na fria madrugada de segunda-feira, 9/7, e os devolveu à polícia, tendo merecido, por isso, o reconhecimento e uma nova chance de se readaptar à sociedade (se o restaurante fosse brasileiro, ele teria recebido um vaucher para 30 refeições gratuitas): acordar cedo, lavar o rosto, pegar o caminhão, limpar peixe, jogar água, comer, dormir e acordar de novo para, quem sabe, um dia, poder voltar a ser vagabundo, como na história do meu sábio amigo napolitano, Elio Cepollina, com suas sete décadas de trabalho duro, nas costas e no olhar, sempre benfazejo.

Ainda nas noticias de anteontem, inspiradas em Voltaire, tivemos a frase do prefeito de Palmas, Raul Filho, na CPI do Cachoeira: “Tive a infelicidade de ser filmado”. Lembro: estamos às vésperas das eleições. Nesse mesmo dia, o presidente do PT, jornalista Rui Falcão, deu a entender que a proximidade das eleições pode privar, momentaneamente, o egrégio STF de sua capacidade de discernimento. Enquanto folheio o jornal, recebo a mensagem de um vereador que me pede votos, a partir do Litoral. Não ouvia falar do sujeito há exatos quatro anos. Devolvo com fotos da minha rua alagada, sem iluminação pública até hoje, e logo me chega uma resposta padrão, agradecendo o meu apoio.

Estamos purgando os anos de ditadura, me diz um amigo. Será? Será que o ex-futuro procurador do Estado, Demóstenes Torres, não teria acordado, nesse sagrado dia 11/7, acreditando que podia escapar da cassação? – Terminou o dia, vejo depois, dizendo que mentir não fere o decoro.

Ainda sobre a ditadura, achei forçada a comparação entre a presidente Dilma Rousseff e o general Ernesto Geisel, quanto ao estilo de governar (firmeza, tecnocracia, nacionalismo) mas, certamente, a insolência do presidente eleito da CUT, Vagner Freitas, contra o STF (9/11, dia da Revolução Constitucionalista de 32) tem raízes na imaturidade jurássica do nosso Golbery de Cruzeiro do Oeste. Ambos ameaçaram mobilizar as massas em defesa dos acusados do Mensalão. Seria de que jeito, meus bons amigos? - Com uma Festa da Achiropita ou com show de Zezé di Camargo, incluindo o sorteio de um Volkswagen zerinho, na porta da Ford?

Em matéria de sindicalismo tupiniquim new order, sou mais o Paulinho da Força, que não engana ninguém. Aliás,  o Paulinho já merecia uma ponta em show da Chayenne (grande Cláudia Abreu) na novela das sete. Vou dar a ideia ao Jorge Fernando. Falta ousadia às novelas da Globo. Afinal, se os sindicatos podem organizar atos públicos montados em torno de uma leitura de poemas de Drummond, por que a novela não pode ser ambientada num evento sindical? – Passei por um desses protestos, ontem (12/7), em frente à sede do IBGE, na rua Santa Luzia, no Rio, e não resisti. Perguntei, numa rodinha de gresvistas: - Vocês são quantos? Minha vontade era perguntar: - Têm certeza de que não preferem trabalhar na iniciativa privada? (ninguém mais pode chamar ninguém de malufista).

A propósito de ditadura, direita, esquerda, coisa e tal, perguntei, hoje, ao José Dirceu, via Facebook de um amigo, se ele não gostaria de mobilizar as massas contra o Ronaldo Caiado, que atropelou alguns itens da MP do Código Florestal, ontem, e prometeu passar um rolo compressor nas demais restrições que trazem insegurança jurídica ao produtor rural. Mas reconheço: nem pagando uma verbinha de US$ 10 e dando sanduíche, como os Kirchnner. Perguntem ao Ariel Palácios. As pessoas querem chinelo e TV a cabo. Além do que, mobilizar as massas em favor dos acusados do Mensalão, convenhamos, seria como dar bom dia a cavalo e depois, pedir ao cachorro para tomar conta da empada jogada às galinhas.

Veja bem, Dirceu: uma amiga minha (eu também tenho amigas) frequenta um grupo de discussão, numa rede social, chamado Conselho de Mãe. A maioria das frequentadoras, como o nome sugere, é de recém-mamães. Você sabe que, do ponto de vista plástico, essa não é a melhor fase das mulheres. Pois bem. Não é que uma personal trainner saradona descobriu o grupo e resolveu anunciar seus préstimos justamente nesse fórum? – Massagens, relaxamento, coisa e tal – tudo a domicílio. Ao lado, uma foto, provavelmente destinada a estimular as participantes a alcançar as formas da professora. Uma coisa meio Pigmaleão, como, às vezes, meu amigo, você se coloca. Não deu um minuto para essa minha amiga, que nasceu e cresceu na Moóca, comentar:

- Filha, com esse seu corpão, você não entra na minha casa, mas de jeito nenhum! Em menos de 3 minutos, o comentário tinha recebido 56 curtições e 25 manifestações de apoio. Claro, ninguém nunca mais ouviu falar da tal personal trainner. Moral da história: melhor deixar para lá essa história de mobilizar as massas contra o julgamento do Mensalão.