terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Dia do Palhaço


Ela quer trabalhar no Brasil

Despido, há algum tempo, da jornalista Lúcia Guimarães e desprovido, momentaneamente, da diligência obssessiva de Caio Blinder, que costuma estudar todas as possibilidades do programa, o melhor time de Economia e Política da tevê brasileira, como se autodefine o Manhattan Conection, da Globonews, perdeu, anteontem (11/12), um pouco do seu brilho.

Nem a caricatura beligerante do Gingrich ítalo-tupiniquim, Diego Mainardi, serviu para cobrir as falhas do produto e a confusão dos membros da bancada diante de uma pauta anacrônica, somada à evidente desmotivação para temas espinhosos como a agonia do Tratado de Maastrich e a negativa populista dos conservadores ingleses em assumir parte do ajuste proposto por França e Alemanha para salvar o que resta da União Européia.

O racha no núcleo de poder britânico era tão evidente que virou manchete da Folha de S.Paulo de segunda-feira, 12 (um jornal de informação geral), bem acima da notícia da derrota dos grandes fazendeiros de Carajás pelo resto do Pará (não-separatista). O desfecho foi prontamente atribuído, pelos analistas, à campanha equivocada de Duda Mendonça, o marqueteiro dos presidentes, também proprietário de terras na região.

O detalhe – fundamental na disputa, para o nosso jornalismo político – passou despercebido na série de reportagens pilotadas por Cristina Serra, no aviãozinho do Jornal Nacional, na última semana. Serra bem que mostrou alguns instantâneos dos males ancestrais que afligem aquela gente, do Tapajós a Belém, passando por Carajás, obviamente: fome, esgoto a céu aberto, doença, ignorância e uma natureza devastada. Nada que dois novos governos estaduais, alguns milhares de funcionários públicos, e duas novas assembléias legislativas não pudessem resolver, com a urgência desejável.

A madrugada do dia 11 também não sorriu para o melhor time do valetudo, mais recente mania nacional, na opinião do narrador da TV Globo, Galvão Bueno, que, em duas semanas, tornou-se um grande amigo dos nossos principais lutadores. No UFC 140, o mais bem treinado dos gêmeos, Rodrigo e Rogério Nogueira, o Minotauro (Rodrigo) vacilou depois de quase derrubar o norte-americano Frank Mir e perdeu no chão, sua principal especialidade; antes, porém, Rogério, o Minotouro, que vinha desacreditado, derrotou, com sobra, o latino Tito Ortiz. Mas a maior esperança dos fãs do UFC estava nos punhos do paraense (não-separatista), Lyoto Machida, que sucumbiu diante do bem treinado novaiorquino, Jon Jones, que vem segurando o cinturão dos meio-pesados, com 15 vitórias e uma única derrota na carreira.

A semana anterior até que começara bem, para o outro time do valetudo, com a aprovação do novo Código Florestal, mesmo sem a brilhante defesa do deputado Aldo Rebelo, do PC do B, hoje militando no Ministério do Esporte. Fernando Pimentel escapou da degola e Cid Gomes continuou governador do Ceará, mesmo depois de ter sua proposta indecente, a empresários da construção civil de seu Estado, gravada pela câmera indiscreta de um repórter do Estadão. No dia 11, o mesmo Estadão denunciou que os tribunais de justiça vêm ignorando o teto salarial de R$ 26,7 mil do STJ, e pagando mais de R$ 41 mil mensais aos juízes. Isso, afinal, não chega nem perto do salário dos treinadores de futebol, que se contam em milhões por ano.

Já a Câmara Federal esbarrou na incompreensão da imprensa burguesa quanto às necessidades dos funcionários permanentes e comissionados da Casa, que lá estão por indicação política: seriam R$ 386 milhões por ano, o que, segundo o primeiro-secretário da Câmara, Eduardo Gomes, do PT-TO, acabaria por reduzir despesas do Legislativo, uma vez que os funcionários deixariam de receber os mesmos reajustes dos deputados. Toda vez que cito o PT, tenho que lembrar, a amigos que militam ou simpatizantes dessa agremiação, que o mundo contemporâneo já não se divide mais entre PT e PSDB. Principalmente agora, que os cientistas descobriram a partícula de Deus e que um cidadão, chamado Inri Cristo, anda chamando as pessoas que têm fé de evanjegues. Barbas de molho, concidadãos.

Voltando à imprensa, não é de hoje que as pautas, em geral, vêm perdendo a sua força. Na semana passada, li mais uma interessante reflexão do meu colega famoso, Eugenio Bucci, que discutiu a mídia, do ponto de vista do público/produto: se você colhe sua informação num site de busca, vira produto (as primeiras indicações são pagas); na mídia formal, isso não ocorre. Na qualidade de público, você, assim como eu, tem direito a uma informação qualificada. Paga, mas produzida por profissionais competentes. E independente. Ou, no mínimo, isenta. É aí, meu caro Eugenio, que a coisa, às vezes, embaça. Mesmo um cidadão que consuma NYTimes, The Economist ou El Pais, jamais obterá o distanciamento por ele sonhado. Tome, por exemplo, a questão palestina. Ou a Portuguesa, do Joaquim Castanheira, que subiu para a primeira divisão.

Concordo que a informação grátis não pode chegar nem perto desse compromisso. A questão é saber se a outra, a paga, está constantemente em busca de uma escala que nós, críticos, consideraríamos ideal (matematicamente falando). É a esse gabarito que o amigo leitor teria que aproximar a sua própria grade, a fim de extrair, do confronto entre os dois, a sua tomada de posição. Os jornais-âncoras, que carregam nas costas o peso da credibilidade de suas respectivas empresas (para que o produto dos ipads sejam ligeiros), podem não ser o tenebroso antro de facistas e imperialistas que os movimentos populares neles enxergam, mas estão longe do ideal de democracia que eles próprios se atribuem.

Também sei que o encaixe dinâmico entre a linha editorial dos veículos que batalham por uma eqüidistância razoável (ou possível) e o instrumento de aferição de seu público é apenas uma hipótese, mas o esforço pela qualidade não pode ser negligenciado.

Evidentemente, as pautas de Luciana Gimenez, que ontem entrevistou Inri Cristo e a do CQC, de Marcelo Tas, jamais se encontrarão, embora uma esteja a dois canais de distância da outra. Mas ontem (12), a boa pauta sobre as previsões de astrólogos, numerólogos e afins, do CQC, deixou de comparar o vaticínio traçado pelas runas de que o Corínthians não será campeão das Libertadores (vamos cobrar, dona Bruxa), com a opinião de um especialista como Lédio Carmona, por exemplo, do SporTV. O cidadão que previu a morte de três políticos, em 2012, podia ser confrontado com uma lista que incluísse José Sarney, aquele ex-ministro do Turismo, Pedro Novais, e o Vicente Arruda, do PR-CE, deputado mais velho do Congresso, hoje com 81 anos. Mais atenção, Marcelo Tas.

Hoje, vou preferir a pauta do caderno Aliás, do Estadão, no último domingo (11/12), que não foi das melhores, mas tratou dos limites da faxina presidencial, da blindagem de Fernando Pimentel, do Código Florestal , da prisão do chefe da Camorra, na Itália, do bichinho enterrado vivo e do MMA, com ótima entrevista de Christian Carvalho Cruz, que eu não conheço, com o amazonense Wallid Ismail, lutador e dono do Jungle Fight no Brasil. Imperdível.

Lucas Mendes, você só está perdoado por ter me apresentado a jovem atriz brasileira, Morena Baccarin, no programa. Isso deixou o Diego Mainardi ainda mais confuso (ok, sabemos que ele grava num prédio flutuante do Grand Canal). Mas até o Correio de Lins (SP) do dia 11 lembrou-se de produzir uma grande matéria sobre o Dia do Palhaço, comemorado na véspera, e que você poderia explorar amplamente, tanto aí, quanto aqui.