quarta-feira, 9 de junho de 2010

Cuenta atrás


Ana Pastor, da TVE (Los Desayunos): experimente
A entrevista de Juan Luis Cebrian, fundador do El País – jornal que redescobriu a democracia na Espanha pré-Almodóvar, no fim dos anos 70 – a Elizabeth Magalhães, da Globonews (31/5, link abaixo) tinha o propósito de discutir o papel do jornalismo clássico diante das novas mídias. A conversa desviou-se (felizmente) para a ética da comunicação. Na opinião do autor de O pianista no bordel, o jornalismo sempre serviu aos interesses da elite e do poder, com raros intervalos de um anarquismo saudável que, eventualmente, produziu mudanças como a imprensa nanica, no Brasil dos mesmos anos 70.

Naquela segunda-feira (31/5), a TV aberta exibiu um Roda Viva com Fanny Ardent – artista que interpretou Maria Callas no teatro e no cinema, e que odeia ser conhecida como a ex de François Truffaut – e o primeiro CQC pós-polêmica do jornalista-humorista Danilo Gentile contra as ONGs que o acusaram de racismo (a polêmica comeu solta no Twitter). Nesse dia, somente as produções do Superpop e do Todo Seu dão deram bola para as transições da informação e da cultura contemporâneas.

Ainda no dia 31/5, Lúcia Guimarães, a vida inteligente que havia na conexão Manhanttan, comemorou a compra do seu iPad em sua coluna no Estadão, mas o assunto em pauta continuou sendo a produção de conteúdo que corre por fora da pipeline da mídia oficial.

No domingo, 1/06 (Dia da Imprensa, para o Correio Braziliense), passei os olhos pela revista Veja que se pode folhear gratuitamente na biblioteca do parque do Ibirapuera e descobri que uma salsicha tem as mesmas 400 calorias que duas colheres grandes de feijão, meio prato de salada em 120 gramas de filé de frango grelhado. Mudou a minha vida, mas, logo depois, no feriado de Corpus Christi (3/6), depois de perder a carteira e de me achar com dez reais no bolso, descobri uma farmácia do Litoral que vende Omeprazol no varejo.

No último fim de semana, tive que me render, finalmente, à histeria da Copa: a Época trouxe matéria de capa sobre pesquisas científicas provando que os jogadores de futebol não apenas têm cérebro, como dele se valem para destacar-se na sua prática profissional. Comentando a notícia com outro passante que pescava as manchetes na banca de jornais (hábito relaxante, depois de anos de internet), chegamos à conclusão de os nossos convocados são milagres ambulantes, considerando a sua origem humilde e demais obstáculos de um país como o nosso.


A divina Fanny Ardent, por exemplo, nasceu na França e cresceu no principado de Mônaco; ingressou na faculdade de Ciências Sociais (Ais-en-Provence) aos 16, curso que trocaria pelo de Arte Dramática, aos 18. Aos 21, estreou no teatro e aos 26, no cinema (Marie Poupée, 1976). Aos 30 anos, conheceu Truffaut. Um ano depois, recebeu sua primeira indicação ao Cesar – prêmio anual do cinema francês.

Frases da atriz (atual diretora), que nasceu e viveu na elite européia: “Eu admiro mais as mulheres livres, mas posso compreender que uma mulher ame a um só homem em sua vida. Tive o exemplo de minha mãe e de minhas avós, que foram livres ao amar seus homens"; "Eu amo as pessoas que ajudam os outros. Odeio fanatismo, detesto disciplina, ordem, hierarquia"; "O mundo está cada vez menos livre, cada vez com mais medo. E prefere segurança, em vez de liberdade”.

Como nas velhas rodas-gigantes e nos contos de Pirandello, às vezes, o que está em cima vai para baixo, as aparências enganam e o que parece muito importante, vira circunstância. Que o espírito da atriz ilumine os nossos jogadores já que, de hoje em diante, a nação entra na contagem regressiva daquilo que a minha musa jornalística, Ana Pastor (Los Desayunos, TVE, na foto acima) chamou hoje (9/5) de aventura africana, em sua nota sobre a Copa: Cuenta Atrás.

http://globonews.globo.com/Jornalismo/GN/0,,MUL1597101-17665,00-JORNALISTA+JUAN+LUIS+CEBRIAN+FALA+SOBRE+A+SOBREVIVENCIA+DOS+JORNAIS+DE+PAPE.html