quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Dilma-Meirelles x Serra-Aécio


A grita da intellighenzia tucana foi discreta, mas intensa. A possibilidade de uma chapa sucessória formada por Dilma Roussef e Henrique Meirelles assusta: a resistência do eleitorado petista de classe média a Michel Temer – antigo quercista associado ao fisiologismo, com peculiaridades comportamentais que não me cabe comentar – será grande. A diferença em relação a uma chapa Serra/Aécio – o primeiro, rejeitado por boa parte do estabishment, o segundo, pela esquerda do PSDB – não seria grande.

Meirelles passaria batido (para usar uma linguagem petista) por sua sólida contribuição à gestão de Lula, no estilo galinha ruiva: é preciso fazer o bolo para repartir o bolo. O wallessa brasileiro não teria subido tão alto no pódio da cena internacional – podendo conversar Shimon Peres e Ahmajinejad, Chavez e Obama – se o bom demônio não lhe tivesse permitido driblar a crise, com seu keynesianismo operário, escorado pela estabilidade da moeda e em reservas cambiais de US$ 200 bi.

Não foi por acaso que o Jânio de Freitas (FSP,16, Meios Insucessos) desvendou a manobra de Lula (a lista tríplice do PMDB), transformada em denúncia pelo bordado barthreano de Fernando Barros e Silva na FSP de ontem (16), Imagem Envenenada. A foto de Alan Marques (FSP,15, pg A-4), diga-se, é ótima.

Não tive tempo de ver o editorial do Estadão, de assistir ao Merval Pereira na Globonews, nem de ouvir a Lúcia Hippolito na CBN ou navegar pelo blog do Noblat e ler Dora Kramer, nos últimos dois dias, mas certamente o episódio serviu para atiçar o desespero da oposição e da mídia que, por ideologia ou por respeito à vocação crítica, insistem, mas não conseguem, abalar o prestígio e a popularidade de Lula.

O meu interesse, no caso, é a indústria da comunicação, sem parti pris. Pela mesma razão - aparentemente contraditória - não tomei conhecimento da tal Conferência Nacional da atividade, que as entidades patronais qualificaram de manobra para censurar a imprensa, num flagrante exagero. A tal CNC foi muito chapa branca para o meu caminhão. Mas, voltando à nossa democracia. Talvez seja ingenuidade, mas acho que Lula - goste-se ou não do seu governo - embora amarrado por uma aliança indispensável à governabilidade, no Brasil (como todos sabem), tem o direito sonhar, sem causar todo esse escândalo.
Lembrei-me de uma frase de Zuenir Ventura (1968, O Ano Que Não Terminou), durante uma conferência na qual um aluno levantou-se para dizer que nada mudou na sociedade brasileira depois da ditadura. Óbvia, mas bem situada: - Na ditadura, se você dissesse isso, seria preso. Uma boa diferença. Imagem: www.baixaki.com.br

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