quarta-feira, 7 de julho de 2010

Cardápio do povo



Uma cerimônia austera marcou a 37ª. Edição de Melhores e Maiores de Exame, na última segunda-feira (5): nenhuma gota de álcool, um caldo quente no final e um discurso comedido do presidente do grupo Abril, Roberto Civita, na linha do vamos melhorar o que está bom. Henrique Meirelles, do BC, foi o único representante do governo, que as publicações da Casa costumam surrar à vontade.
Doutor Roberto não deixou de mencionar a complexidade tributária e a infra-estrutura deficiente do país, além de “uma classe política pouco sensível às reformas de que necessitamos”.
No entanto, vez de criticar as mazelas políticas, atribuiu à elite, as responsabilidades da elite, seja lá o que isso for. A minha, por exemplo, enquanto elite, poderia ser simplesmente testar os pratos do Manacá, em Camburi-SP, que o dono da festa também aprecia.

Melhores e Maiores 2010 foi a publicação de maior peso na história da Abril, segundo seu próprio editor: 1,114 kg de estatísticas, boas reportagens e pesquisas. Um empresário com negócios na Ásia justificou-me, à boca pequena, estar ali apenas para colher a revista, cujas informações começariam a ser digeridas na mesma noite, para gerar indicadores em seus prospects no Sol Nascente. Páginas e páginas de publicidade rechearam o prato de resistência do evento. A Hering, que eu preferia basic em vez fashion (como a cidade pediu), foi eleita a Melhor Empresa do Ano.

Tudo certo, tudo previsível. Só faltou o Caio Decousseau como mestre de cerimônias, em vez da Mônica Waldvogel. Ele teria dito: “Se o país está crescendo, Galvão, é sinal de que as empresas estão ganhando dinheiro!”.

Tanta obviedade me deixou, como dizia minha avó, com a pulga atrás da orelha: -Quanto tempo vão durar as grandes promoções e mega-eventos das publicações impressas de prestígio, como Exame, Valor, Isto É e Carta Capital, considerando-se as atuais perspectivas da informação remunerada, no Brasil e no mundo? – Qual a importância comercial e política desses encontros, hoje, no budget de seus patrocinadores, ou na cauda longa de seus grandes títulos? – Notei, melancólico, a ausência daqueles velhinhos que costumavam penetrar nesses coquetéis: traços de um cotidiano mais complexo ou sombras de um passado de fausto?

A única notícia que a revista me trouxe – respeitando os colegas que batalharam na sua elaboração – foi a mudança de perfil da chamada produção nacional, algo que já vem se desenhando há algum tempo, na própria Exame e publicações concorrentes: empresários novos e mais ricos, não necessariamente nesta ordem, numa nação que, afinal, dobrou de tamanho nas últimas décadas, mas que, na contramão da propaganda oficial, embora esteja comendo pouco mais, continua carente de Educação e de oportunidades à altura de suas necessidades.

Eu, por exemplo, paguei um mico ontem, na oficina de manutenção do meu notebook, por desconhecer um simples comando que restaura as funções do mouse acoplado ao teclado do equipamento. A oficina, a propósito, fica em frente a uma igreja Universal. Fui até lá para sacar dinheiro: no pátio interno, há uma lanchonete de uma dessas redes famosas e dois caixas automáticos: um do Bradesco e um do BB. O prédio - situado na avenida João Dias, em São Paulo, capital que não é nenhum Fauburg Saint Honoré – como diria o Caio Decousseau, tem o mesmo porte de uma Notre Dame de Paris.

Será que se acrescentasse um pouco de Educação (formal) às propostas de governo dos candidatos que ontem foram para as ruas (como a av. João Dias), ou às responsabilidades da elite que compareceu ao Monte Líbano-SP, anteontem, melhoraríamos o nosso cardápio? - Cartas para o meu novo ídolo filosófico, acima citado.

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