A Folha de S.Paulo publicou hoje (28/4) uma entrevista com o diretor do Financial Times, John Ridding, que decretou o fim da cauda longa. Não, ele não falava do vestido de Kate Middleton. Segundo Ridding, o jornal, que já teve 70% de sua receita proveniente de anúncios, há quatro anos, foi um dos primeiros a migrar, de forma bem sucedida, para o modelo de cobrança por notícias on line. “Temos 207 mil assinantes em nosso website”, orgulhou-se o executivo, informando que, ainda este ano, a receita do jornal on line deve igualar-se ao faturamento publicitário da versão impressa.
“Anúncios são voláteis e sensíveis a ciclos econômicos”, arriscou, com a autoridade de quem lucrou 60 milhões de libras, em 2010 (R$ 156 milhões). Nesse período, a maioria dos jornais sofria para adaptar-se à nova realidade digital. A FSP tem mesmo que comemorar o sucesso do colega britânico, que também controla 50% do Economist. Mas acho prematuro endossar as afirmações de Mr Ridding, sem ponderar:
1. A demanda pelas informações de FT e The Economist (inclusive por parte do nosso principal jornal de negócios, o Valor Econômico, controlado pela Folha e pela Globo, não pode se comparar à dos jornais brasileiros, por razões que vão além da credibilidade dessas marcas, seu alcance e influência;
2. A idéia de que a informação de graça está morrendo e que jornalismo de qualidade precisa ser pago tem a consistência de um torrão de açúcar, longe da umidade e do calor. Insisto que o hardnews virou commodity, razão pela qual os jornais regionais se fortaleceram e os noticiosos da TV inseriram, rapidamente, em suas edições, reportagens especiais seriadas, como forma de distinguir-se da concorrência;
3. O impacto da mídia digital na mídia tradicional ainda não completou o seu ciclo. Infelizmente, digo, como ex-diretor do Sindicato dos Jornalistas de SP (não acredito mais no modelo clássico de relações de trabalho). Gostaria de poder comemorar a premissa de John Ridding com meus antigos patrões, mas não estaria sendo coerente: os jornalões só resistem por serem lojas-âncoras em seus respectivos shoppings, mas precisam fortalecer a sua credibilidade, em vez de diversificar sua oferta e multiplicar as suas promoções;
4. A revista Veja tem me enviado um e-mail a cada cinco minutos. Ainda não recebi um telefonema do Dr. Roberto, insistindo para que eu volte a assinar a revista, mas não estamos longe disso. Já o Mino não me liga porque fala com gente mais importante. Neste momento, a Folha me brinda com uma degustação de 20 dias, O Globo, de dez e o Valor oferece 30 dias grátis por uma assinatura anual.
Também penso que a informação de qualidade, com credibilidade isenção, utilidade e diversão deveria ser bem remunerada. Mas também acho que em vez de trabalhar uma pauta sobre a capacidade que a Meteorologia terá de detectar uma enchente, com algumas horas de antecedência – o que só interessa ao poder – a grande emissora nacional devia questionar a incapacidade da autoridade pública de escoar a Praça da Bandeira (Rio de Janeiro-RJ), por exemplo, que sofre com as inundações desde antes de eu nascer, como revela meu velho pai, de 86 anos.
Penso, ainda, que o segundo maior banco brasileiro não deveria permitir que seus gerentes vendessem seguros enganosos a seus clientes, só para bater as metas de faturamento de suas agências, como acabo de descobrir, depois que a minha casa de praia, no sertão de Cambury-SP, foi invadida pela água, num desses temporais recentes. Nem a limpeza paliativa que a apólice prometia, em letras miúdas, foi feita.
Gostaria, ainda, como todos os que aqui me lêem, que as revistas semanais brasileiras continuassem publicando escândalos, mas que as nossas altas cortes não poupassem esforços para puní-los, em vez de se ater a princípios de uma pureza inadequada a uma sociedade tão flexível como a nossa, conforme vimos no julgamento da Ficha Limpa pelo STF. E, claro, que a Comissão de Ética do Senado fosse merecedora de alguma fé, considerando a truculência e a ignorância de alguns de seus pares.
E, também, que o combate à miséria se fizesse acompanhar pela Educação formal, presidenta. Bem, esta não é uma lista para o Papai Noel, e sim uma discussão sobre a vitalidade dos jornais e seus stakeholders. Nesse caso, como ex-operador da área, me arriscaria a dizer que o principal não é o querer, nem o fazer, nem o sentir, nem o vender. É o perceber e o transmitir. Talvez por causa dessa receita, tão simples, a empresa do senhor Ridding vá tão bem, num meio tão conturbado.
“Anúncios são voláteis e sensíveis a ciclos econômicos”, arriscou, com a autoridade de quem lucrou 60 milhões de libras, em 2010 (R$ 156 milhões). Nesse período, a maioria dos jornais sofria para adaptar-se à nova realidade digital. A FSP tem mesmo que comemorar o sucesso do colega britânico, que também controla 50% do Economist. Mas acho prematuro endossar as afirmações de Mr Ridding, sem ponderar:
1. A demanda pelas informações de FT e The Economist (inclusive por parte do nosso principal jornal de negócios, o Valor Econômico, controlado pela Folha e pela Globo, não pode se comparar à dos jornais brasileiros, por razões que vão além da credibilidade dessas marcas, seu alcance e influência;
2. A idéia de que a informação de graça está morrendo e que jornalismo de qualidade precisa ser pago tem a consistência de um torrão de açúcar, longe da umidade e do calor. Insisto que o hardnews virou commodity, razão pela qual os jornais regionais se fortaleceram e os noticiosos da TV inseriram, rapidamente, em suas edições, reportagens especiais seriadas, como forma de distinguir-se da concorrência;
3. O impacto da mídia digital na mídia tradicional ainda não completou o seu ciclo. Infelizmente, digo, como ex-diretor do Sindicato dos Jornalistas de SP (não acredito mais no modelo clássico de relações de trabalho). Gostaria de poder comemorar a premissa de John Ridding com meus antigos patrões, mas não estaria sendo coerente: os jornalões só resistem por serem lojas-âncoras em seus respectivos shoppings, mas precisam fortalecer a sua credibilidade, em vez de diversificar sua oferta e multiplicar as suas promoções;
4. A revista Veja tem me enviado um e-mail a cada cinco minutos. Ainda não recebi um telefonema do Dr. Roberto, insistindo para que eu volte a assinar a revista, mas não estamos longe disso. Já o Mino não me liga porque fala com gente mais importante. Neste momento, a Folha me brinda com uma degustação de 20 dias, O Globo, de dez e o Valor oferece 30 dias grátis por uma assinatura anual.
Também penso que a informação de qualidade, com credibilidade isenção, utilidade e diversão deveria ser bem remunerada. Mas também acho que em vez de trabalhar uma pauta sobre a capacidade que a Meteorologia terá de detectar uma enchente, com algumas horas de antecedência – o que só interessa ao poder – a grande emissora nacional devia questionar a incapacidade da autoridade pública de escoar a Praça da Bandeira (Rio de Janeiro-RJ), por exemplo, que sofre com as inundações desde antes de eu nascer, como revela meu velho pai, de 86 anos.
Penso, ainda, que o segundo maior banco brasileiro não deveria permitir que seus gerentes vendessem seguros enganosos a seus clientes, só para bater as metas de faturamento de suas agências, como acabo de descobrir, depois que a minha casa de praia, no sertão de Cambury-SP, foi invadida pela água, num desses temporais recentes. Nem a limpeza paliativa que a apólice prometia, em letras miúdas, foi feita.
Gostaria, ainda, como todos os que aqui me lêem, que as revistas semanais brasileiras continuassem publicando escândalos, mas que as nossas altas cortes não poupassem esforços para puní-los, em vez de se ater a princípios de uma pureza inadequada a uma sociedade tão flexível como a nossa, conforme vimos no julgamento da Ficha Limpa pelo STF. E, claro, que a Comissão de Ética do Senado fosse merecedora de alguma fé, considerando a truculência e a ignorância de alguns de seus pares.
E, também, que o combate à miséria se fizesse acompanhar pela Educação formal, presidenta. Bem, esta não é uma lista para o Papai Noel, e sim uma discussão sobre a vitalidade dos jornais e seus stakeholders. Nesse caso, como ex-operador da área, me arriscaria a dizer que o principal não é o querer, nem o fazer, nem o sentir, nem o vender. É o perceber e o transmitir. Talvez por causa dessa receita, tão simples, a empresa do senhor Ridding vá tão bem, num meio tão conturbado.
Bob
ResponderExcluira despeito da nossa infinita ingenuidade, da qual eu compartilho, acho que a grande imprensa hoje esta mais preocupada em não ferir os sentimentos dos grandes anunciantes do que produzir noticias de verdade.
Talvez os blogs sejam uma "valvula de escape" mais interessante para quem ainda vive os tempos romanticos do jornalismo.
Alias, não faz muito tempo fiquei pensando em como seria a circulação de um jornal que só trouxesse boas noticias...
Abs
Ze Arnaldo
Zé, obrigado por comentar. Isso me permitiu reproduzir aqui impressões registradas no Facebook, sobre a cobertura da Globo à morte de Bin Laden, na segunda-feira, 2/5:
ResponderExcluirAo arreganhar seus dentes, desesperada para mostrar de que lado está, a TV Globo expôs a sua maior fragilidade, que vem dos meus tempos de jornal O Globo (embora tivéssemos, então, o Evandro C.Andrade, no jornal e o Armando Nogueira, na TV): falta de senso crítico, principal ingrediente de sua função social.
O principal aspecto da minha crítica, na segunda-feira foi, e continua sendo, o veneno de uma cobertura passional como aquela na cabeça dos menos informados e o prejuízo à democracia: uma imprensa que não cumpre o seu papel é vidraça fácil para os inimigos da liberdade.