terça-feira, 8 de setembro de 2009

Só um pouquinho

Antes que me espremam no próprio gol, como o Maradona disse que faria com o Brasil, no último sábado, devo esclarecer que a ética profissional me impede de comentar o tema do momento, exceto que o pré-sal conseguiu unir governo e PSDB, coisa rara, naquilo que ambos julgam essencial: o conceito. Dito isso, passemos ao próximo tema: se para alguns, a Lei de Gerson é um fantasma Moral que vem assombrar até inocentes costumes – como o de passar pela padaria com os filhos que acabamos de pegar no colégio, consumindo cinco minutos do lazer dos coitados – para outros, já complica condescender só um pouquinho.

Tem até uma entidade com o nome dessa bolinha que o Hegel, sobrinho desnaturado do Kant e tio igualmente do Marx, bateu no paredão durante anos, para depois nos rebater direitinho. Gente séria, esse pessoal do instituto de ética. Concordo com boa parte do que eles pregam, embora eles tenham lá seus interesses. Velhos combatentes da gloriosa armada britânica, em luta contra a pirataria que se espalhou por aí, como cães e produtos chineses, para muito além do Caribe.

Antes que me venham com o Buarque de Hollanda, o Sérgio, Mário de Andrade e Darcy Ribeiro, previno: não sou daqueles que desce a lenha no jeitinho e na malemolência daqui, como um estóico qualquer. Afinal, nem a dona Susane, da BMW, resistiu à baba do lobo mais mediterrâneo que a mão dela conseguia alcançar, ali nos Alpes suíços. Mas, no outro dia, me puseram numa mesa bem em frente à entrada do único café lisboeta que eu conheço em São Paulo, a Bella Paulista (você paga pelo tempo que ocupa a mesa, ou quase isso): um ponto de observação privilegiado.

Está bem, eu tinha bebido um porto, mas vi pelo menos dois casais entrando com crianças, cada casal com a sua: um ruivo e uma bela morena com uma garota lourinha, e um tipo moreno com uma loura e um garotinho de traços orientais. Pareciam recém-saídos de uma loja de brinquedos, os pais. Maravilha, pensei: a adoção está bombando, e não é o marketing da Firma, aquela pizzaria de Maresias que defende a adoção de cães abandonados, igualmente louvável. Fui dormir feliz. Mas hoje, saiu o laudo do Conselho Regional de Medicina sobre as práticas do Dr. Abdelmassih, aquele que botava só um pouquinho de citoplasma de mulher mais jovem em seus programas de fertilização. A confirmação das suspeitas de Eugenia (além das outras, é claro), me deu calafrios.

Não sou nenhuma vestal. Já me curvei às circunstâncias e guardei, no bolso do colete, certos princípios dos quais jurara não me afastar, fosse por causa nobre ou pequeno vício. E entendo a ansiedade das pessoas que não podem, mas sonham, ter filhos. Ocorre que a prisão desse médico e a proposta de outras boutiques de fertilização de lá e daqui (veja abaixo) sugerem um joguinho de tênis, urgente, entre a Ética e o Direito, uma vez que o da Biociência com a Religião deu empate. Afinal, se o Dr. Roger, chegou, de fato, a propor a algumas esposas que não se incomodassem em contar para o marido que óvulos de mulheres mais jovens tinham sido usados em sua gestação, onde, de pouquinho em pouquinho, vamos chegar?

Repare nos argumentos do médico italiano Severino Altinori para justificar a linha de montagem em que sua clínica se transformou, reproduzidos no artigo da pesquisadora e professora Débora Diniz, da UnB (OESP, 31/08), que você encontra no http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup427389,0.htm

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