terça-feira, 18 de maio de 2010

As lentes de Miguilim


Cena do filme Mutum - Divulgação

Os casos de violência contra crianças, nas últimas semanas, meses, me assustam. De todos os tipos: do maníaco de Luziânia, no DF e Isabela Nardoni, em SP, ao menino assassinado por roubar um cavalo para dar um passeio, ontem (17/05), num subúrbio carioca (Emerson Pontes, 13 anos). Sem falar na pro-espancadora e na festa do netinho do vereador Luiz Gallo, de Niterói (RJ), que acabou em pancadaria. Ou na pesquisa do bullying, que desfilou pela grande imprensa, no mês passado, sem deixar rastro quase nenhum.

A doença social é um clichê, mas lembrei-me de Pai, “ralhando com Nhanina por querer empobrecer a gente ligeiro, com tanto açúcar gasto com porcaria de doces e comidas de luxo só porque os meninos e Miguilim gostavam”. E da surra no filho que levou o Pai a endoidecer e se enforcar com um cipó, com medo de haver matado o menino. Bons tempos do Rosa, dos livros. O que temos que rever? – A educação das crianças, a escola ou a qualidade dos pais?

Meus filhos não me dão netos, os filhos de quatro anos do meu vizinho de baixo brincam na academia de ginástica, os garotos do Serginho Groismann passam altas horas na Internet, o videogame já desbancou a Band e o SBT em tempo de audiência (Uol, 11/05) e temos os garotos da cracolândia, os mortos na caixa d’água, os que cheiram cola, os que dançam com malabares e toda essa ladainha que estamos cansados de ver e ouvir desde o tempo em que o disco se podia virar.

Alguns dirão que a resposta está na (ausência) da fé – pelo jeito, até dentro da Igreja – outros na matriz social, os psicanalíticos, na solidão, os economistas, na hipermodernidade de Lipovetsky (a cultura do excesso), a Palmirinha (TV Gazeta-SP, das 13 às 14 h), na falta do amor, o Hugo Possolo, no pouco incentivo à cultura – uma única virada por ano –, o presidente do Jockey, no azar de quem não apostou no Sal Grosso, no último domingo, nem ouviu o coral da Rede Globo cantando o Hino Nacional.

Eu – e, tenho certeza, uma legião de outros fãs – recomendaria uma releitura do mundo pelos óculos que Rosa emprestou a Miguilim, no desfecho de Campo Grande, lembrado acima e na bonificação que se segue, de amostra grátis: “O dia estava quente, o Grivo esbarrou para escutar a gaitinha do Liovaldo – nunca tinha avistado aquilo – e aproveitou, punha os patos para beber água num pocinho sobrado da chuva...”.

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