Papar garotas suecas com 20 anos ou mais foi sempre objetivo de todo brasileiro da minha geração, desde quando Garrincha marcou presença naquela área com seu passo torto. Julian Assange não era sequer um pingo a caminho do útero materno. Não digo isso em desagravo ao herói do momento, mas em homenagem a meu velho amigo, Otávio Bueno da Fonseca, o Sarrafo, irritado com a hipocrisia da cobertura que começou com o William Bonner chamando o site do cara de uaiqueliques, em vez de uiqueliques. Falha irrelevante, penso, se comparada às lágrimas derramadas sobre a notícia da morte do nosso companheiro, Roberto Marinho, em 2003, devidamente registradas no Youtube. Afinal, um âncora (sobretudo da Rede Globo) tem que manter a emoção sob controle.
Otávio foi meu chefe de reportagem em O Globo, esse grande jornal brasileiro que tenta desaparecer nas trevas da contemporaneidade, seguindo o saudoso Jornal do Brasil. Para o chefe das Américas da MSLGroup/Publicis, Jim Tsokanos, com quem tive o prazer de trocar duas palavras, na última sexta-feira (17/12), a imprensa brasileira está em ascensão, enquanto a norte-americana despenca ladeira abaixo. Não sei se ele estava tentando ser agradável ou falava da consolidação de capital na mídia regional e do interesse dos investidores externos nas empresas locais de comunicação, de olho na mobilidade e na tevê digital. No segmento da mídia impressa, o efeito Internet, por aqui, tem sido igualmente devastador.
É verdade que, no Brasil, os bloggers mais conhecidos estão muito ligados às empresas comunicação. A Míriam Leitão, por exemplo, é o trade marketing da Rede Globo. Está no Bom dia Brasil, em O Globo, na CBN, na Globonews, no G1 e em seu próprio blog: dificilmente você escapa da Míriam Leitão. Também é verdade que a nossa integração digital ainda está em andamento, mas não se pode ignorar a pressão que circula nos subterrâneos da mídia convencional, como os túneis que deram passagem ao comando do tráfico no Alemão, provando que, afinal, o conjunto de favelas merecia a definição de complexo.
O comentarista/blogueiro Juca Kfouri é outro exemplo: seu esforço para dar alguma importância à derrota do Internacional para o Mazembe, do Congo, no último dia 14/12, ajudado pela presidente eleita, Dilma Roussef, na melhor tradição seca-pimenteira do Planalto, rendeu uma enxurrada de protestos na web, provando que o futebol brasileiro, apesar da mediocridade e do mercantilismo, ainda reina soberano como o esporte bretão de maior prestígio nessas terras de Santa Cruz. Reserva moral do jornalismo esportivo, Kfouri meteu o pé na lama ao lembrar o sofrimento dos cerca de 10 mil gaúchos que ainda teriam que pagar as prestações da CVC. Preconceitos à parte, na luta insana para preservar o próprio emprego, o vizinho do Washington Olivetto não se distingue de seus colegas.
Enquanto os jornalistas esportivos lutam pela sobrevivência, na ampla entressafra do futebol, na qual Cléber Machado tem que narrar corrida de bicicleta e kart beneficente (19/12), nossos representantes, em Brasília, tratavam de melhorar os próprios salários, elevados para R$ 26 mil mensais, fora as verbas de gabinete, extras e emendas orçamentárias eventualmente desviadas para entidades fantasmas, como as que o Estadão denunciou, na semana passada, e que custaram a relatoria da Comissão do Orçamento ao senador Gim Argello, do PTB do DF.
Para quem não se lembra, o DF também é o domicílio eleitoral dos ex-governadores José Roberto Arruda e Joaquim Roriz, da esposa-candidata, Leslian e do governador eleito, Agnelo Queiroz, do PT, protagonista da Operação Shaolin, que apurou, no ano passado, um rombo de R$ 3 milhões do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, quando ele estava ministro. Melhor o Agnelo da novela das oito, sobrinho da Gemma e filho do Totó. Nessuno parla italiano, ma nessuno ha aiutato, o incoragiatto Berlusconi a mantenerse premier.
Enquanto Lula corria ao cartório para registrar as realizações de seu governo (just in case), e José Dirceu declarava nunca ter saído do Planalto, as administradoras norte-americanas de cartões cancelavam o serviço que garantia alguma renda ao Wikileaks, mas o socialista Barak Obama anunciava um corte de impostos de US$ 800 bilhões, a continuidade da guerra cambial contra a China (o FED vai emitir US$ 600 bilhões no primeiro semestre de 2011), medidas que devem fortalecer a indústria e o emprego de seu povo. Com 46% de aprovação em dezembro (abaixo da popularidade de Bush), Obama conseguiu aprovar, este ano, a reforma do sistema de saúde e a Lei Dodd-Frank, que restringiu a especulação dos bancos com os derivativos que causaram a crise econômica de 2008.
Por aqui, a popularidade do Nosso Guia alcançava 87% de ótimo ou bom, neste mês, enquanto o impostômetro, da Associação Comercial, ultrapassava a marca de R$ 1,2 bilhão, 20% acima do arrecadado em igual período do ano passado, fazendo o país voltar a ser um grande exportador de primários e a indústria local vergar sob o peso de uma infra-estrutura deficiente e uma das matrizes energéticas mais caras do planeta, questões agravadas por uma carga fiscal que inviabiliza qualquer chance de competição com os chineses ou com os norte-americanos em manufaturados.
Assange, que não chega a ser uma nova forma de fazer jornalismo, como arriscou um comentarista da CBN, neste sábado (18/12), revelou a tacanhice da política externa norte-americana. Uma área na qual o presidente Lula – apesar da falta de tato, em alguns momentos – lembrou Garrincha. Obama pode não ser exatamente socialista, mas entre os nossos, temos o Paulinho da Força (PDT), o Netinho de Paula (PC do B), o Paulo Skaf e Gabriel Chalita (PSB): - Que tal?
Mas o Socialismo nos legou as secretarias de Cultura (a primeira do Brasil foi criada pelo governo do Ceará, em 3/10/1966, em plena ditadura). Mais adiante, esses organismos passaram a responder, também, pela gestão do turismo, do esporte e do lazer. Vem aí a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Quanto à cultura, mesmo corroídos pela Internet, os jornalões me trouxeram, neste fim de semana: As artérias da pedra e outros veios, de Mário Chamie (secretário de Cultura na cidade de SP durante a gestão de Reynaldo de Barros, de 1979 a 1983), vejam vocês; uma releitura de O Nariz, de Gogol, uma resenha que me convenceu a comprar o livro de Ediney Silvestre e um texto brilhante do padre Carlos Moraes, O Ateísmo toma o ônibus (pág. J8 do caderno Alias, OESP, 19/12).
Moraes lembra os séculos de asfixia social da igreja e que, nos EUA, o filósofo Daniel Dennet, autor de A Perigosa Idéia de Darwin, todos os anos organiza e dirige corais de Natal com seus vizinhos, mesmo sendo ateu convicto.
Bob,
ResponderExcluircomo sempre brilhante.
A Folha deste final de semana apresenta uma coluna sobre a propaganda (vetada) que tinham a intenção de colocar o ateismo na pauta do dia.
O natimorto projeto de busdoor sairia em SP, Porto Alegre e Rio.
As empresas refutaram a campanha tambem, obviamente, por pressão da Igreja.
Abs