terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Graduação


Esta deve ter sido difícil

No dia 14/12, às 17h10, fui informado de que a graduação do meu filho marqueteiro e propagandista, Ricardo, pela ESPM, ocorreria naquela mesma data, às 20 horas, no colégio salesiano de Santana, São Paulo, capital. O céu armava uma daquelas tempestades que fazem o pessoal da Eletropaulo estremecer; meu carro tinha ido para a revisão. Eu estava no Brooklin, mas tinha que passar por Santo Amaro, onde mantenho um terno para essas ocasiões. Todos aqueles lugares-comuns dos discursos de paraninfos e formandos me serviam: “Por que fui avisado em cima da hora?”, “Até ele conseguiu!”, “Não havia um lugar mais longe para essa festa?”.

O périplo foi um pouco além do lugar-comum, com direito a mapa do Google, taxi modelo VW Santana e um motorista cheio de boa vontade, mas cego como um morcego, munido de um GPS fabricado na China e vendido no Paraguai. Depois de alguns banhos de chuva em busca de informações, chegamos a uma ladeira de Santana onde o tráfego parou completamente. Levei quase um minuto para perceber o que estava acontecendo, embora 50 metros antes, tivesse visto uma estátua de Domenico Sávio, principal discípulo João Bosco, fundador dos salesianos: um gigante do espírito, segundo a igreja católica: estávamos a poucos passos do nosso alvo.

O evento – totalmente terceirizado – manteve com todos nós, seus patrocinadores, uma relação tão breve e impessoal quanto possível. A beca, bem como aqueles chapeuzinhos quadrados que os nossos garotos o jogam para o alto, imitando os do cinema americano, eram fornecidos por meio de um depósito-caução, para serem devolvidos imediatamente após a foto do bem-aventurado com a respectiva família. Pergunte sobre os colegas do seu filho: os créditos e as opções/especialidades são cruzados: eles mal se conhecem de algumas ficadas nas Economíadas.

No pátio do colégio salesiano, onde uma tiazinha (a sobrinha era formanda) acabara de estacionar o seu veículo, perguntei, quase ao mesmo tempo em que ela, a um cidadão que passava, se estávamos, de fato, no local indicado. – Qual é a formatura? – ele respondeu, perguntando. – A da ESPM, respondi contrariado. – Ah, tá – ele acenou, alegremente – é subindo essas escadas. A da União Cultural é naquele outro pavimento à direita. Legumes, na terceira prateleira, carnes, na gaveta de baixo.

Já tínhamos subido uns cinco degraus. Nos cinqüenta que faltavam, não resisti a contar à tiazinha o que me aconteceu, trinta anos antes, quando fui ao casamento do João de Barros, ao qual ele jura que eu jamais compareci. O João era um foca brilhante que apareceu na sucursal de OG, no final dos anos 70, como alguns amigos que ainda estão por aí devem se lembrar: Otávio, Marco Antonio Antunes, Enéas, Fideo, Di Nardo, Joao Teixeira. Pouco depois de conquistar nossa simpatia, missão difícil, na época, ele resolveu se casar. Não com a gente, claro.

A recepção, como se dizia naquele tempo, seria no Morumbi, por conta da família da moça, abastada, segundo a lenda: imperdível. No entanto, depois de faltar à cerimônia religiosa por causa de trabalho ou de algumas baforadas – não me lembro bem – fui sozinho para o local da festa, atrasado, com um endereço na mão e uma vaga idéia de onde ir. Depois de muito circular, cheguei à rua indicada e comecei a procurar pelo número: não estava longe. De repente, um grande jardim iluminado, pessoas estacionando os carros, garçons com bandejas. Na porta, como no pátio dos salesianos, não deixei de perguntar:

- O casamento do João? – É aqui mesmo, me foi confirmado. Logo em seguida, uma rodinha, um chope. Outra rodinha, um uísque, salgadinhos, boas piadas sobre o João, enforcado assim tão cedo, o pobre. Mais piadas contra o noivo, mais intimidade, novos amigos, o tempo passando,e nada do João aparecer. Será que ele aguenta? – ríamos: a noiva era estupenda e acabava de passar por nós, cheia de energia. Lá pelas tantas, comecei a dar por falta dos amigos. Nenhum de nós era normal, mas havia algo estranho no ar.

Finalmente, alguém anunciou: - Lá vem o João. Passava das duas da manhã. Embora eu estivesse ligeiramente alterado, enxergava muito mais do que hoje: aquele, definitivamente, não era o nosso João. Nunca mais eu soube se houve duas festas na mesma quadra, se o número ou o nome da rua estavam errados, se o outro noivo era um joão simples, como o nosso, ou um desses joões que também são pedros, paulos ou antonios, como o escritor. Enfim, o João de Barros ficou muito irritado quando eu lhe disse, e passei a repetir, nos últimos anos, que, sim, estive em seu casamento, embora ele não nunca tenha me visto por lá.

No meio da formatura (chegamos em tempo) fomos informados de que o paraninfo de uma das turmas tinha acabado de chegar, depois de ter ido parar numa das três ruas Henrique Mourão existentes na capital paulista, esta no bairro do Butantã, que fica do outro lado da cidade. Durante a comemoração, um bom discurso de aluno e muitos discursos chatos de professores. Num deles, descobri um excelente boteco, nas costas dos salesianos, o Bar do Luiz, onde fizemos o nossa própria graduação depois da solenidade oficial. Vencedor de varios concursos, como o de melhor petisco do Boteco Bohemia 2006, o bar fica na rua Augusto Tolle, 610. Isso não é merchand, embora o nosso formando tenha estudado na ESPM.

5 comentários:

  1. Muito divertida a história, principalmente a do casamento do João. De qq forma, parabéns ao novo marqueteiro, e ao pai, que já está ficando habituee em cerimônias acadêmicas... abraço

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  2. Nem todas tao distintas como a sua, amigo velho, com direito a tese aprovada com distincao e louvor. Perdao pela ausencia de sinais do nosso bom portugues, estou numa lanhouse na Colombia, mas nao estou fazendo nada de errado por aqui. Abracao.

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  3. tambem achei engracadinha a sua historia.vc tá de bom humor,com certeza por ser ainda inicio de ano.
    por meu lado tentarei nao ser ácida.assim de primeira.
    tampouco possuo no meu laptop a sinalizacäo adequada para o portugues.mas as vezes faco um malabarismo e corro atrás da ortografia.porem a cedilha é chatíssima.tchau.

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  4. Obrigado, Renata, guarde o picles para depois: eu levo o pão, o queijo e o rosbife. Nos vemos no Ponto Chic.

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  5. A propósito, o nome do Marcelo é Prol.

    Mais uma semana e o diploma estará em mãos.

    Abraços velho!

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