terça-feira, 24 de setembro de 2013

Depois do festival

Chico Sexta-feira GraçasaDeus  Pinheiro teve, hoje (24/9), no Bom Dia, o seu momento de santa ira, ao narrar a história dos governadores e prefeitos que não querem aumentar o salário dos professores, no ano que vem, alegando falta de verba. “Eles têm dinheiro para trocar de carro”, vociferou. “Conseguem pagar assessor e aumentar o salário de vereadores, mas não podem pagar um ordenado decente aos professores”, insistiu, mas foi chamado à razão pela colega, Ana Luiza Guimarães: “Chico, vamos aos fatos”.

Carl Berstein, da dupla de Watergate - como alguém lembrou, ontem, durante a homenagem da Câmara de Vereadores de S. Paulo ao jornalista Eduardo Ribeiro, pelos 18 anos de “Jornalistas e Cia” – costumava dizer que o bom repórter “ilumina a cena”, enquanto que o mau repórter “constrói a notícia”. Pode ser. Num país onde as coisas funcionam razoavelmente bem, com uma Constituição sólida, simples e sem entulho autoritário, que protege os seus cidadãos, exceto em casos extremos, envolvendo assassinos malucos, faz sentido.
Para ficar dentro do tubo maldito (definição de Marcelo Tas), que completa 63 anos sem ter atingido a maturidade, como eu, o programa do William Waak do último domingo (22/9), com o diretor do IBMEC, Fernando Schuler (que não é o marido da Sheila Mello), o historiador, Marco Antonio Villa, e o cientista político, Marco Antonio Teixeira, da FGV, acabou num beco sem saída: a hegemonia gramsciniana da esquerda que está no poder – e que muitos nem sequer reconhecem como esquerda – não consegue fazer o país avançar por causa de sua aliança (histórica, no Brasil) com as oligarquias conservadoras.

Schuller acrescentou, ao caldo, a oligarquia sindical, que, segundo ele, também contribui fortemente para manter o país estagnado. O tema nuclear do programa era a aceitação dos embargos infringentes, seu reflexo nas eleições de 2014 e nas perspectivas do país, a médio prazo. Em pauta, a tipificação do crime praticado pelos engenheiros do Mensalão e que, corroborando a frase de Delúbio Soares, tornou-se “uma piada”: - Usurpação de poder, associada a uma causa nobre (erradicar a miséria) e encorajada por uma oposição “elegante demais” para derrubar o governo, em 2005, em nome da legalidade, ou banditismo (peculato, corrupção, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro), devidamente precificado por uma sociedade habituada à impunidade que vicejou à sombra do adhemarismo do “rouba, mas faz”?
A futurologia que viria a seguir, no debate, “em busca do crescimento sustentável que trará o tão sonhado desenvolvimento social”, esbarrou, justamente, no suposto desinteresse das oligarquias quanto às reformas institucionais que destravariam o país (principalmente a política e a trabalhista). “Há que ter paciência”, resumiu o moderador, “para que os implementos progressivos da nossa democracia (como esse julgamento?) surtam efeito”.

A premissa se baseia na suposição de que quem sobe de vida, enxerga melhor e logo exige mais. Será? Nossos colegas do Bric garantem isso? – A China consumista, a Rússia neofacista noveau riche e a Índia espiritualizada e tecnológica já conseguiram aperfeiçoar as suas respectivas democracias? – Com exceção da condenação de Bo Xilai à prisão perpétua, na China, seis meses depois do novo presidente, Xi Jingping, prometer um “combate inabalável à corrupção”, pouca coisa mudou, nesses países.
Em nossa vizinhança, os mais “civilizados”, cujos PIB crescem a taxas mais significativas, como a Colômbia (4% em 2012), o Peru (5,6% este ano) e o Chile (4,3%, no primeiro semestre) são, justamente, aqueles cujos governos amargam os maiores sinais de desaprovação, enquanto que os populistas, que menos crescem, desfrutam dos melhores índices de popularidade.

Tanto o círculo de ferro das oligarquias, quanto no a estagnação causada pelos que descobriram a poção mágica do populismo – distribuir pouco, para muitos – a única vara de condão capaz de quebrar os entraves ao crescimento estaria numa Educação capaz de inverter a frase de Moraes Moreira, “Lá vem o Brasil”. Em linguagem de Rock in Rio, não importa se os curadores do Palco Sunset estão mandando melhor que os do Palco Mundo: se eles se falassem, boa parte dos nossos problemas estaria resolvida .
No entanto,  informa O Globo, hoje (24/9), governadores e prefeitos se articulam para barrar o reajuste de 19% dos professores no próximo ano, razão pela qual o âncora do Bom Dia Brasil indignou-se, conforme relatei acima. Embora o piso nacional de R$ 1.567,00 por 40 aulas semanais seja, atualmente, respeitado por apenas 12 estados da federação,  segundo o porta-voz dos chefes de executivos municipais e estaduais, professor Jacy Braga, secretário de Educação Adjunto do Distrito Federal, o reajuste do ano passado (9,7%)  “já criou dificuldades para alguns estados”.

O MEC se dispôs a coordenar a negociação entre os representantes de governadores e prefeitos com a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação, mas já avisou que a decisão final será do Congresso. O governo pode aumentar o mínimo, mas o salário dos professores é responsabilidade do Congresso.
Por enquanto, o assunto está fora da agenda nacional, hoje tomada pelo discurso da presidente Dilma na ONU, pelo pior saldo na nossa balança comercial, pelo murro do deputado no senador, durante visita da Comissão da Verdade ao Doi-Cod, pelo casamento do pagodeiro – que o filho chama de “vagabundo” – com a mulher-fruta e pelo depoimento do filho do diretor do Friboi contra a mãe, acusada de mandar matar o marido. Amanhã, quem sabe, o tema da Educação volte à baila.
Meu projeto de migrar para o Canadá vai tomando corpo (não avisem o Consulado): os críticos da idéia não conseguem me convencer que outros temas da agenda nacional não guardam nenhuma relação entre si: as mancadas nos leilões das estradas e dos aeroportos, a deterioração fiscal, os equívocos na política energética, a queda da confiança da indústria – liderada por Paulo Skaf (a Fiesp) – os cartazes em inglês dos novos estádios mandando o sujeito ir para o sul em vez de apontar o norte, a sentença de morte ao José Júnior, do Afroreggae, as investigações do caso Siemens e o segundo lugar de Bruna Marquezine na Dança dos Famosos, enquanto o pobre Neymar vai sendo ofuscado por aquele argentino, lá no Barcelona.

Companheiro vereador José Américo, não pude ouvir o seu discurso, ontem, sobre "O papel do jornalismo e a transformação social"; em compensação, no trajeto de volta, ouvi, na rádio Estadão, parte da reportagem de Júlio Maria, sobre o Rock in Rio, cuja leitura, recomendo, no Estadão de hoje, 24/9: "Glórias e contradições de um festival".

Legenda: - Pues, donde estamos, exactamente?

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