Se a vida fosse um jogo – War ou O Pequeno Arquiteto – tenho uma idéia do que faria para resolver alguns dos nossos problemas: em vez de cumprir pena de trabalho comunitário no asilo para pacientes de Alzheimer do Instituto Sagrada Família, no pequeno município de Cesano Boscone, perto de Milão, na Itália, o ex-primeiro ministro, Sílvio Berlusconi, que entende de jovens adolescentes do sexo feminino, seria encarregado de libertar as 200 garotas sequestradas, no dia 14 de abril, pelos militantes nigerianos do Boko Haram, parlamentando com o simpático Abubakar Shekau, líder do grupo.
A medida liberaria a missão canadense e os aviões enviados pela França, Estados Unidos e Reino Unido à Nigéria, para atuar, em vez disso, na crise da Ucrânia, sob comando dos judeus ortodoxos ultrarradicais que são contra a visita do papa Francisco à Terra Santa (Jerusalem). Eu não comprei ingressos para a Copa, mas daria um bom trocado para ver um daqueles barbudos enfrentando o Vladimir Putin no octógono do Dana White.
Com essa providência, talvez o Hamas e o Fatah
pudessem fazer avançar as negociações de paz visando libertar a faixa de Gaza
da severa vigilância israelense. Lembrando que, se Berlusconi encontrasse, no tal asilo, uma personagem como a Maria Agnesi – homenageada, hoje pelo Google
(16/5), e que morreu num asilo semelhante, o Albergo Trivulzio, em 1799, o papo
entre eles não teria a menor chance: Agnesi (cuja única curva era aquela que recebeu o seu nome, a Curva de Agnesi), não entendia nada de futebol,
embora tenha estudado equações diferenciais e produzido o primeiro trabalho
reunindo as teorias de Newton e de Leibniz (Instituizone
Analitiche). Ela também publicou suas Proposiones
Philosophicae, assim mesmo, em latim.
O presidente Lula, eu botaria para enfrentar as manifestações de rua
que antecedem a Copa, incluindo a greve dos PMs em Pernambuco: ele é bom de
palanque. Teríamos mais chances de atender ao apelo do empresário Abílio Diniz,
que pede calma à moçada, já que a Copa é inevitável, sugerindo que mostremos,
ao mundo, a nossa face mais nobre. Segundo o empresário, os protestos contra os
estádios de dois bilhões de reais, construídos em praças com pouca tradição no
futebol, como o DF do Agnelo Queiroz – mais ligado às Artes Marciais (vide Operação Shaolin) – são justos, uma vez
que a nossa Saúde, enquanto isso, lembra os farrapos humanos que perambulam
pelas avenidas Brasil, no Rio, e rua Helvécia, em São Paulo. Mas não é hora de
reclamar, pensa o empresário.
O conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de S. Paulo,
Robson Marinho, eu chamaria para explicar, às famílias dos 300 mineiros mortos
na mina de carvão de Soma, na Turquia, as causas do acidente. Ele substituiria
o primeiro ministro turco, Tayyp Erdogan, que, decididamente, mostrou-se incapaz de desempenhar
a tarefa a contento. Se fosse bem sucedido na missão, Marinho poderia manter a sua
cadeira no TCE, embora tivesse que devolver, do mesmo jeito, os US$ 2,7 milhões
das contas na Suiça. Esse dinheiro daria para se construir uns 20 Machados de
Assis, novinhos em folha, inclusive em estilo rapper, se fosse o caso, e reformar umas 30 Anas Marias Bragas.
No lugar dos judeus ortodoxos que eu mandaria para a
Ucrânia, o Faustão e a sua provável sucessora, Regina
Casé (ex-Asdrúbal), seriam incumbidos de fazer alguns programas de auditório no local mais próximo
permitido do Muro das Lamentações, em Jerusalem. Para contribuir na tarefa,
destacaria o Arlindo Cruz, o Almir Guineto e o MC, Nego do Borel. Como
artistas convidados, a Cláudia Leite e um trio formado por Supla, Márcio Victor
Lepo Lepo e Latino. Isso emprestaria brasilidade ao conjunto.
Na Virada Cultural, eu colocaria aquele pastor que aluga horário na Band,
o Romildo Ribeiro Soares (RR Soares), junto com o Edir Macedo e com o Valdemiro
Santiago num debate sobre as raízes do funk nacional, moderado pelo jornalista
e apresentador, José Luís Datena. Este, certamente, falaria da influência desse
mal afamado gênero nos recentes atos de violência que vitimaram
inocentes em confrontos inusitados com a polícia, com bandidos (balas perdidas) e com populares inflamados por falsas
denúncias publicadas nas redes sociais.
Aliás, se o Renan Calheiros e o Romero Jucá estivessem em
Morrinhos 1, no Guarujá-SP, no dia 3/5, a multidão enfurecida não teria atacado a
dona de casa Fabiane Maria de Jesus, que morreu em consequência de ferimentos
recebidos durante a bárbara agressão de uma pequena multidão histérica e
ignorante. Da mesma forma, se os ilustres senadores tivessem sido convidados a
dar o pontapé inicial do 1ª. Copa de Futebol da Vila Aliança, em Bangu, no dia
seguinte (4/5), certamente a foto de traficantes celebrando um gol com tiros de
AK-47, vestidos com a camisa da Seleção Brasileira, não teriam percorrido o
mundo.
No meu jogo, a atriz, Isis Valverde, seria encarregada de escrever
um livro de memórias em Aiuruoca-MG e depois, teria que desfilar nua, pelas ruas de
Paraty, durante a Flip, recitando poemas de Mallarmé, ao som do Prélude à l'après-midi d'un Faune, de
Claude Debussy. Nesse momento, o Cauã Reymond e o novo namorado de sua
ex-mulher, Grazi Massafera - o lutador Erik Silva -, estariam acomodados em
poltronas separadas, para ouvir uma leitura de poemas do nosso grande Ferreira
Gullar.
O jovem negro que finalmente surpreendi espetando propaganda
de encanador, chaveiro e eletricista nas caixas de correio da vizinhança –
intrigante sobrevivente das epidemias de dengue, carnaval, futebol e cerveja – que,
provavelmente, ainda acredita em trabalhar, estudar nas faculdades Cacique
Cobra Coral e subir na vida, eu mandaria para o Canadá, com uma bolsa de
estudos bancada pelos fundos partidários que pagaram os advogados de defesa dos
condenados do Mensalão.
E a bailarina, belíssima, que vi enjaulada num box de
lotérica da avenida Adolfo Pinheiro (Santo Amaro-SP), anteontem, ouvindo
gracejos de um velho babão, seria teletransportada para uma aula da Royal
Academy of Dance, em Londres, onde moraria num pensionato, com direito a
visitar a família, no Brasil, uma vez por ano, mediante verba igualmente cedida
pelos fundos partidários que, no meu jogo, já teriam deixado de consumir
recursos das construtoras extraídos de obras superfaturadas, financiadas com os
nossos impostos que, de 1/1/2014 até o momento em que escrevi esta crônica
(16/5, 16h31), somavam R$ 644,7 bilhões.
Qualquer reclamação de eventuais indigitados ou excluídos,
estarei assistindo ao show da Vanusa ou a banda São José das Piranhas, na 10ª Virada
Cultural, que, este ano, tem a curadoria do competente Hugo Possollo.
(*) Título provisório, roubado do filme Uccelatti e Uccellini, de Pier Paolo Pasolini.
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