De volta ao trabalho, hoje, quarta-feira, 18/2, depois de
uma pausa revigorante em Aiuruoca-Minas, ao pé Serra da Mantiqueira – onde revisitei cachoeiras da era pré-Isis
Valverde e assisti a uma animada discussão sobre as contribuições de Ramsés II
e Amenotep III à espiritualidade humana – ouço, pela Rádio Estadão, uma
acalorada polêmica entre os jornalistas, Cesar Sacheto e Luís Antonio Prósperi,
sobre o momento no qual o técnico Felipe Scolari, também conhecido como Felipão
começou a se perder: se antes ou
depois da queda do Palmeiras à segunda divisão, em 2012.
“Ele já tinha sido demitido do Chelsea”, disse um. “Mas tinha
recuperado o prestígio da seleção brasileira ao ganhar a Copa das
Confederações, em 2013”, rebateu o outro . A conversa teve muitas nuances e passou, claro, pelo retumbante fracasso dos 7 x 1 para a seleção alemã. Finalmente,
ambos concordaram: sem jogadores, nenhum técnico consegue fazer
milagres. “Nem o Anderson Silva, sem os anabolizantes”, teria arrematado o
comentarista do programa, Roberto Godoy, em cuja opinião, o Anderson, além de
tudo, foi burro: “Todo mundo sabe que a androsterona é um agente cancerígeno”.
A conversa do Vale do Matutu sobre os faraós foi mais produtiva:
descobri que, ao enfrentar um leão, você não pode quebrar a sua harmonia.
Senão, babau. Não por acaso, imagino, reza a cultura egípcia que Amenotep III
foi um injustiçado: passou para a história como um déspota epicurista que vivia
caçando leões só para quebrar o tédio, mas, em vez disso, foi um orientador
do povo que seguia à risca a sua missão divina e matava leões apenas para
ensinar que a ordem deve prevalecer sobre o caos.
No Brasil de agora, o PT, que completa 35 anos, denuncia uma
conspiração das elites para enlamear a sua reputação , responsável, segundo a
imprensa burguesa, pelo mais alto índice de corrupção jamais visto neste país.
O objetivo da intentona, além de comprometer a moral da agremiação, seria interromper as conquistas
do povo e da democracia. Como o acesso à educação que, pelo visto, só não
alcançou a população da capital paulista, cujo governo (petista) está sendo
obrigado a substituir as lixeiras de plástico das ruas por outras, mais
econômicas, feitas de saquinhos presos em aros de arame. Tudo por causa de uma
parcela de vândalos que não aprendeu a conviver em sociedade.
Quem sabe essa providência sensibilize as pessoas que têm por
hábito jogar lixo nas ruas, como no meu quarteirão – personagem frequente das
coberturas das inundações – por onde a equipe de limpeza do Fernando Haddad só passa uma vez, a cada dois meses.
Enquanto a presidente Dilma reflete sobre a queda de sua
popularidade numa base naval de Aratu, Bahia, especialistas em energia preveem
um aumento no preço do insumo superior a 60% este ano – isso para as
indústrias. O ex-presidente da Confederação que representa o setor e atual
ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro Neto, por sua vez, luta para
desfazer os embaraços criados pela diplomacia dos dois governos petistas que o
antecederam nas relações comerciais do país, tentando não desprezar o maior
mercado do mundo, que, ao contrário do que assessores informaram à chefa da
Nação, não é o nosso.
Havia outras notícias, hoje, ao redor, além das inundações e
da falta d’água, dos estupros vitimando adolescentes cada vez mais jovens e dos
brutais acidentes nas estradas: a expectativa quanto ao resultado da campeã do carnaval carioca que, mais uma vez, refletiu fatos marcantes da nossa
sociedade, como: a frequência da classe média aos motéis, os esportes radicais (paragliders,
surf, cama elástica), a crise da Petrobras, o antagonismo entre a liberdade e
racismo, e aqueles temas praticamente inéditos nos desfiles de escolas de
samba, como a importância do negro na nossa história e a força da mulher
brasileira.
Em sua crônica do dia, na FSP, o grande Rui Castro especula
por que as atuais marchinhas dos blocos não “estouram” como na época de
Lamartine Babo, Haroldo Lobo, Braguinha e João Roberto Kelly: “Garota
Saint-Tropez”, “Eu agora sou feliz”, “Mulata Iê-iê-iê”. Afinal, milhões de
jovens saíram às ruas para comemorar o carnaval. Seria – ele indaga – falta de
percepção desse potencial, por parte da “indústria do carnaval”? – Estamos
velhos, Rui, deve ser isso: nada gruda na geração dos tablets e do prazer
instantâneo, exceto o band-aid. Provavelmente, a vencedora do
carnaval carioca será a escola que fez o desfile mais técnico.
Mas o papo esotérico, este sim, faz sucesso entre os jovens.
No meu tempo, eram os deuses astronautas. Sirianos, de acordo com a leitura
atual da Confederação das Galaxias sobre o trabalho do Conselho Principal de
Lira na Constelação Vega, em curso, desde os anos 1980, para integrar a terra
aos 36 outros planetas do sistema solar, administrados pela organização. O objetivo é livrar
o nosso planeta da barreira de frequência que obstrui a nossa comunicação com os demais planetas, por causa da carga negativa que nos foi imposta, há quatro milhões de
anos, pelos alfa draconianos e pelos reptilianos (esconjuro), em guerra com os seres
da luz.
A seguir, no meu tempo, vieram: A Erva do Diabo, de Carlos Castaneda (1968), cujo título original
era Teachings of Don Juan – A yaki way of
knowlewge e O Despertar dos Mágicos,
ou Le Matin des Magiciens, de Louis Pawels e Jacques Bergier (1969).
Empolgados, mergulhamos no Mistério das Catedrais, de Fulcanelli, pseudônimo
adotado pelo politécnico francês Paul Dacoeur (1839-1923), segundo o seu discípulo,
Eugene Canseliet, em entrevista ao Le Figaro, em junho de 1965. E assim,
viramos todos alquimistas, incluindo o Jorge Benjor e aquele amigo do Raul (Seixas).
Para os esotéricos do momento, aliás, as emanações de energia do
mundo superior – das quais os faraós, Jesus, Buda, Maomé e outros profetas – foram apenas transmissores ou guias, esse caminho tem mais atrativos do que a Disney, a
ciência de Stephen Hawkins e do Thomas Piketty, que a tecnologia de Jobs ou a arte de
Tomie Otake, que acaba de ultrapassar a nossa fronteira.
Você pode se divertir lendo a entrevista de Ramsés II sobre
a batalha de Qadesh (“Eu acreditava numa vitória fácil sobre os hititas”) e o
segredo para viver 90 anos, numa época em que a maioria morria aos 35 anos, mas não
tem porque dar risada dos passos que, segundo os mestres esotérios, nos faltam
para ascender a uma escala mínima da evolução: acabar com as guerras e com a exploração
indiscriminada dos recursos naturais e das pessoas; eliminar as drogas pesadas, a intoxicação e a fome; amarmos uns aos outros; aceitar, individualmente, a
responsabilidade coletiva pelo planeta; acabar com a corrupção desenfreada, com a opressão religiosa e com empobrecimento das massas em benefício de alguns
controladores da riqueza.
Nada mal, para começar, certo?
Como sempre, mas um texto delicioso... Você devia escrever no mínimo toda semana....
ResponderExcluirVictor, meu amigo caríssimo. Tem sido difícil encontrar tempo e disposição. Mas eu explico depois. O pai do seu amigo também achou um veio legal, em artigo no Estadão de hoje, dê uma olhada. Abraço grande.
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